La Rochefoucauld e La Bruyère
Estes dois filósofos moralistas franceses viveram no século mais marcante do absolutismo francês. O absolutismo se caracterizava pela concentração de todo poder na pessoa do rei. De fato, o monarca personificava o poder executivo, o legislativo e o judicial. Além disso, exercia grande influência na Igreja e esta era lhe subserviente, uma vez que predominava a doutrina de que a autoridade do rei provinha diretamente da vontade de Deus. Em decorrência, desobedecer ao monarca seria desobedecer a Deus. A expressão máxima do absolutismo na França foi o rei Luís XIV, que teria proferido a célebre frase "L'État c'est moi" (O Estado sou eu).
Vivendo nessa sociedade dominada pela nobreza que privava da corte monárquica e que concentrava em suas mãos todos os grandes negócios do reino, La Rochefoucauld e La Bruyère, nobres também eles (o primeiro por direito hereditário, o segundo por aquisição de cargo), pudeream observar de perto a frivolidade, a hipocrisia, a corrupção e a ambição desmedida da imensa maioria dos membros dessa nobreza.
Enquanto La Rochefoucauld, militar atuante, se envolveu em tramas, complôs e rebeliões, provocando crises políticas no reino, La Bruyère viveu a serviço de nobres do mais alto escalão como preceptor do neto de um príncipe, observando de perto a vida da corte em seus círculos mais próximos do rei e do primeiro-ministro.
Fruto da longa experiência nesse meio, os dois optaram por registrar suas impressões a respeito. Observadores argutos, nada lhes escapa. La Rochefoucauld prefere refletir mais a fundo, filosofar. La Bruyère também filosofa, mas privilegia a descrição de tipos humanos que cruzaram por sua vida na corte. Ambos, porém, tiram conclusões de grande alcance ao analisar o comportamento humano nessa sociedade do século XVII. Suas máximas e sentenças decorrentes dessa análise se configuram como verdadeiras pérolas de sabedoria, evidenciando reflexão profunda sobre a vida humana e sobre os princípios que devem ou deveriam regê-la.
Nessa ótica, mais que criticar e condenar a sociedade de então, La Rochefoucauld tece profunda reflexões sobre os mais variados temas, como a verdade, a virtude, o bem, a sociedade, o amor, os vícios, as inclinações humanas e muitos outros, resultando em máximas e sentenças de caráter moral, em que sobressaem precisamente os valores éticos que deveriam ser cultivados e vividos pelo homem. Por essa razão, ele foi denominado de filósofo moralista.
Ao contrário, La Bruyère mescla sentenças e máximas com a descrição de tipos humanos, criticando diretamente atitudes comportamentais observadas por ele, condenando as com o intuito, segundo ele, de corrigir os defeitos, vícios e desvios e, desse modo, melhorar o homem e depurar a sociedade. Mais que filósofo moralista é considerado, por seus críticos, sociólogo ou psicólogo social ou até mesmo antropólogo, sem poupar-lhe, no entanto, o epíteto de moralista.
De qualquer forma, os dois escritores do século XVII representam a escola moralista que teve grande penetração tanto nos meios intelectuais como entre as camadas menos letratas do povo.