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terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Crítica ao pensamento de Robert Pape sobre o Terrorismo Islâmico.
De onde vem a visão de que a política externa ocidental é a motivação para o terrorismo? Podemos dar alguns nomes para chamar ao debate.
Um notável é Robert Pape.
O cientista político e professor da Universidade de Chicago Robert Pape, autor do livro "Dying to Win: The Strategic Logic of Suicide Terrorism" (Morrendo para Vencer: A Estratégia Lógica do Terrorismo Suicida), argumenta que ao menos os terroristas que se utilizam de ataques suicidas - uma forma especialmente eficaz de ataque terrorista - não são impulsionados por qualquer forma de islamismo mas sim por "um objetivo estratégico claro: forçar as democracias modernas a retirar suas forças militares do território que os terroristas veem como suas pátrias."
O americano afirma que 95% dos ataques terroristas suicidas tiveram motivação nacionalista ou secular, e só uma minoria tem origem no fanatismo religioso. Todos os líderes da rede terrorista Al Qaeda já deixaram claro que querem a desocupação de territórios ocupados por forças ocidentais e dos regimes aliados locais. Não se trata de uma motivação religiosa, mas territorial ou política. Pape defende que o fenômeno do terrorismo suicida está diretamente ligado às ocupações de forças estrangeiros, enquanto a religião, tão comumente citada como motivação, está por trás de apenas 5% dos ataques desse tipo no mundo desde 1980.
Segundo o especialista, a retirada das tropas israelenses do Líbano e das americanas do Iraque é a principal forma de diminuir esse tipo de violência. Para sustentar sua visão ele argumenta que Israel sofreu ataques suicidas no Líbano quando ocupou o território libanês. Após a sua retirada em 2000, nunca mais foi alvo. O mesmo vale para a ocupação dos territórios palestinos. O Hizbollah matou 700 israelenses quando Israel ocupava o sul do Líbano, no anos 1990. Entre 2000 e julho deste ano, quando Israel esteve fora do Líbano, foram apenas 11 israelenses mortos, todos soldados e ainda assim nas fazendas de Shebaa [área ainda ocupada por Israel].
Pape lembra também que ataque suicida não é exclusivo de muçulmanos. O grupo que mais cometeu atentados suicidas é Tigres Tâmeis, do Sri Lanka, um grupo nacionalista.
Contestações:
Que não existem apenas atentados suicidas com motivação religiosa é algo bem conhecido. Sabemos da história dos Kamikazes no Japão.
Mas colocar o Terrorismo Islâmico nesse meio e dizer que é apenas um problema de território e nacionalismo é algo bastante duvidoso.
A questão do problema territorial de Robert Pape não explica muito bem o por que da Al-Qaeda realizar atentados contra seus inimigos bem longe das zonas de conflito. Em Londres, em Nova York, em Washington, em Madrid, em Paris etc.
Outra coisa que Pape diz é que sempre se deve ler os comunicados que eles emitem para saber o que eles querem. Esses comunicados sempre exigem que Estados Unidos, Reino Unido e Israel se retirem de países como Afeganistão, Iraque e Líbano. Se considerarmos os comunicados dos terroristas então teremos a certeza absoluta e inquestionável que a motivação religiosa é muito forte sim. Além do apelo para tirar as tropas estão presentes frases como "matar americanos e seus aliados, civis e militares é um dever individual de todo o muçulmano capaz de fazê-lo" (dita por Osama Bin Laden).
O que Pape parece fazer é escolher qual é o "discurso verdadeiro" e qual é apenas a desculpa, sem muita base científica ou analítica séria.