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domingo, 20 de novembro de 2011

O ocultismo de Shakespeare

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.” (William Shakespeare)

Shakespeare foi um dos mais citados e representados dramaturgos de todos os tempos, com um legado que até hoje influencia todos os tipos de literatura e expressões artísticas modernas, Shakespeare deixou uma obra repleta de referências à imortalidade da alma, a espíritos benignos ou malignos, a fadas, duendes, lugares encantados, bruxarias e sortilégios. Nelas, os valores humanos são questionados e confrontados com valores espirituais, isso de forma dramática e às vezes cômica.

A reputação de Shakespeare se baseia, sobretudo, nas 38 obras teatrais das quais se tem indícios de sua participação, ainda que seus contemporâneos de maior nível cultural as tenham rechaçado, por considerá-las, como a todo o teatro, tão-só um entretenimento vulgar.

Sem Londres, Shakespeare compartilhou os benefícios da companhia teatral na qual atuava, a Chamberlain’s Men, mais tarde chamada King’s Men (ou na verdade Os Homens Reais), e dos dois teatros que esta possuía, The Globe e Blackfriars. Suas obras foram representadas na corte da rainha Isabel I e do rei Henrique I.

Como acontece com todo grande nome, há controvérsias sobre a biografia do Bardo de Avon, como era chamado. O pouco material existente deriva de registros da monarquia, da igreja e, obviamente, de críticas de seus rivais. Algumas correntes iniciáticas acreditam que Shakespeare tenha sido uma das reencarnações da alma que um pouco mais tarde seria conhecida como o Conde de Saint Germain. Segundo o M. Samael Aun Weor, este personagem conhecido como William Shakespeare seria realmente ninguém menos do que o tão comentado Conde de Saint Germain.

A vida deste grande Mestre, Saint Germain, as passagens e os feitos mágicos de sua vida neste mundo sempre foram envoltos em mistérios e feitos extraordinários, que geraram mitos e lendas em todas as épocas.

Dizem que Shakespeare nasceu em 1564, em Stratford-on-Avon, Inglaterra, que era filho de pais burgueses, teve sólida educação na escola local e mais tarde desposou uma mulher mais velha, Anne Hathaway, com quem teve dois filhos. Começou a carreira como ator, consolidando-se mais tarde como grande autor. Mas verdadeiramente ninguém, ninguém mesmo, sabe ao certo as verdadeiras passagens da vida desse grande dramaturgo da ARTE SUPERIOR, da ARTE DA PSICOLOGIA SUPERIOR.

A Obra Psicológica de Shakespeare

Os clássicos shakespeareanos não são somente um tratado sistemático de entretenimento, mas nos ensinam, de modo mais acessível e artístico, relações muito importantes da alma humana, ajudando-nos a compreender melhor o que é o homem, o mecanismo real de sua psicologia particular, a estimar nossas virtudes naturais, assim como as conseqüências do pecado geradas pela inconsciência, pelos defeitos psicológicos agregados em nossa mente etc.

Um dos grandes pesquisadores da Psicologia de Shakespeare foi Sigmund Freud. A abundância de menções de Freud sobre a obra de Shakespeare está explícita na sua coleção de obras completas, Edição Standard, onde vemos que Shakespeare não é citado apenas em três dos vinte e três volumes da coleção.

As principais obras de Shakespeare foram analisadas por Freud: Hamlet, Macbeth, Rei Lear, O Mercador de Veneza e Ricardo III. Não obstante, ele dedicou atenção especial as duas primeiras peças, fazendo-lhes menções constantes, dedicando-lhes ensaios, e relacionando ambas de uma forma que auxiliava a exposição de suas próprias idéias acerca da psicanálise e das estruturas intrapsíquicas.

Freud comenta que as obras shakespearianas são na verdade tragédias da consciência. Freud observa uma relação limite de presumíveis desequilíbrios psicológicos em todas as tramas. Incestos, Parricídios, Loucuras diversas, Cobiça, Complexos, Bloqueios diversos, Crimes…

A Obra Mágica de Shakespeare

Vejamos agora, em algumas obras de peso, como a mão de Shakespeare nos conduz a outros planos da existência.

É de “Hamlet” a frase que abriu esta resenha. Dita pelo próprio logo no começo da tragédia, exprime seu espanto após haver se deparado com o fantasma do seu pai, numa das torres do castelo, a lhe pedir que vingue sua morte, perpetrada por seu tio, tirano usurpador do trono.

O famoso monólogo “Ser ou não ser, eis a questão..” surge daí. Da angústia de Hamlet em cumprir a missão: assassinar o tio para vingar a morte do pai. Na verdade, o tema deste monólogo é nada mais que o suicídio, só que, ciente das conseqüências espirituais, Hamlet não o perpetra, mas vejam como a idéia assoma em seu desabafo: “… Morrer… dormir… mais nada. Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne…” Mas ele desiste. “… O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando enfim desenrolarmos toda meada mortal, nos põe suspensos…”

Em A Tempestade encontramos Próspero, antigo Duque de Milão, invocando forças sobrenaturais para trazer à pequena ilha em que fora abandonado, o navio dos nobres que arruinaram sua vida. Próspero consegue manobrar a força dos ventos e das águas
para provocar o naufrágio.

Na ilha, é mestre de criaturas encantadas como Ariel, espírito do Ar, e de outros espíritos da natureza. O perdão é o tema da peça, pois no final, Próspero referindo-se à sua magia negra, reconhece que ela o levara para longe do desenvolvimento espiritual. “Meu encanto terminado, reduzi-me ao próprio estado, bem precário, é verdade.”

“… pois de todo, ora careço da arte negra de alto preço, que os espíritos fazia surgir de noite ou de dia..”


“… o auxílio procuro de vossa prece que assalta até a Graça mais alta, apagando facilmente as faltas de toda gente. Como quereis ser perdoados de todos vossos pecados, permiti que sem violência me solte vossa indulgência.”

Sonhos de Uma Noite de Verão traz o duende Puck intermediando as relações de Hipólita, Rainha das Fadas, e de Oberon, Rei dos Elfos. Puck também interfere nas relações humanas, a mando de Oberon, manejando poções do amor e magias diversas.

Os elfos Flor-de-Ervilha, Traça, Semente-de-Mostarda e Teia-de-Aranha complementam o tom mágico desta peça, onde o destino das pessoas é resolvido em contato com espíritos da natureza, num mundo mais real do que o das paredes da cidade.

Em Macbeth, Shakespeare já começa pondo as 3 assustadoras Bruxas da Charneca a serviço de conspirações. Logo no início, seu caldeirão ferve enquanto elas conjuram preces para destruir os inimigos de seu senhor. O personagem principal da peça também é acometido de uma visão comum na magia a todos os que cometem crimes horríveis. A todo momento, vê diante de si o punhal, arma do crime, e o espectro de Banquo, vitimado pela arma. “… Ou de um punhal não passas, simplesmente, do pensamento, uma criação fictícia procedente do cérebro escaldante?” “Já vou, está feito… é um chamado eterno que para o céu te leva ou para o inferno.”

Na velhice, Macbeth reconhece que o peso de tudo o que ele conquistou, honrarias, poder, riquezas, nada valem se comparados a conceitos como amor, amizade, consciência.
Há muitos outros exemplos. Infelizmente, os bancos escolares conferem a autores como
William Shakespeare uma aura didática, um exemplo de estilo, de gênero, esquecendo do conteúdo “interior” de suas obras, o que leva muitos a nem tentar se aproximar de obras que julgam como chatas antes mesmo de as lerem.

Seres Elementais

Com uma origem fundada principalmente na mitologia grega e nórdica, os seres elementais foram, a partir da Idade Média, encampados pela magia e pelo esoterismo. Relacionados diretamente com a natureza, os elementais são considerados os princípios ou a alma dos elementos. Seus nomes gerais são: gnomos (elementais da terra), salamandras (do fogo), silfos (do ar) e ondinas (da água). Os elementais também são bastante conhecidos com o nome de fadas. Shakespeare utilizou-se destes poéticos personagens em duas de suas peças: O Sonho de Uma Noite de Verão e A Tempestade.

Em Sonho de Uma Noite de Verão, eles têm uma participação fundamental na trama. Dois dos principais personagens da peça, Oberon e Titânia, são, respectivamente, rei e rainha das fadas. Quando entram em luta por causa de um determinado órfão que desejam para seus séqüitos, esses dois elementais utilizam-se de diversos recursos mágicos. Esta magia acaba por atingir também personagens humanos, ocasionando todas as divertidas reviravoltas da peça.
A íntima relação entre os elementais e a natureza concreta aparece de forma muito clara em três dos personagens criados por Shakespeare nesta peça: Flor de Ervilha, Teia de Aranha e Grão de Mostarda. São fadinhas que dão vida aos elementos que as nomeiam. O divertido Puck, criado de Oberon, guarda características mitológicas, assemelhando-se a um sátiro, mas é descrito na peça como um gnomo que “assusta as donzelas, desnata o leite e faz com que a bebida não fermente”. Quando gosta de um humano, porém, Puck o ajuda em seus trabalhos e lhe traz a boa sorte.

Em A Tempestade, o personagem Ariel, criado do poderoso mago Próspero, é nomeado como um gênio aéreo ou silfo. Ariel, numa de suas várias ações mágicas, comanda o vento e naufraga um navio que passa nas proximidades da ilha onde Próspero está confinado. Dá início, assim, a uma trama romântica e fantasiosa.

Aparições Sobrenaturais

As aparições, mais demoníacas do que divinas, estão muito mais relacionadas à bruxaria do que à religião. São seres horríveis, amedrontadores, que habitam o que a magia negra nomeia sub-planos astrais. Elas funcionam como um canal de comunicação entre as bruxas e o demônio. O principal exemplo são as grotescas figuras invocadas pelas feiticeiras de Macbeth, na Cena I, Ato IV: uma cabeça vestindo um capacete, que incita Macbeth contra ser rival Macduff, barão de Fife; uma criança ensangüentada, que profetiza que “ninguém nascido de mulher pode molestar Macbeth”; uma criança coroada com um galho na mão, que lança a famosa profecia: “Macbeth só será vencido quando o grande bosque de Birmam, subindo a alta colina de Dunsinane, marchar contra ele”; e, finalmente, a aparição de uma fila de oito reis, o último tendo um espelho na mão. Atrás deles, mais uma vez, o já conhecido fantasma de Banquo.
Monstros

Há dois exemplos principais de monstros na obra de Shakespeare. Um é fruto de um feitiço. No caso, o homem com cabeça de burro em O Sonho de Uma Noite de Verão. O outro exemplo, presente em A Tempestade, é Calibã, monstro disforme e selvagem, filho da terrível bruxa Sicorax. O mago Próspero faz tudo para civilizar Calibã, mas seus esforços são inúteis. O personagem monstruoso permanece preso à sua animalidade e funciona como uma metáfora clara da face egóica, irracional e instintiva, do homem.

Crenças Religiosas

As crenças religiosas, notadamente as nascidas dos dogmas católicos, estão presentes em toda a produção artística do Renascimento. Shakespeare não foge à regra e encontramos, em sua obra a crença em Deus e no castigo divino, a crença no Demônio e nos seres infernais, além de várias superstições ligadas à religião. Um bom exemplo da crença católica aparece em Hamlet quando o rei Claudius tenta inutilmente rezar, na esperança de purificar sua alma pecaminosa perante Deus. Quanto à crença na existência do Demônio, o melhor exemplo aparece em Macbeth, quando o personagem principal teme pela sorte de sua alma, ao afirmar: “Foi por nada que entreguei a pérola de minha vida eterna ao inimigo comum do gênero humano”. Assim como o Fausto, de Goethe, Macbeth tem a consciência de que vendeu sua alma ao Demônio.

O misticismo também aparece de diversas formas, em várias peças, normalmente relacionadas com criados e personagens de classe social inferior. Os nobres, entretanto, não escapam ao magismo e nas duas peças já citadas encontramos bons exemplos: Hamlet tem uma boa oportunidade de matar o rei Claudius, mas desiste ao perceber que o monarca está rezando. Acredita que, se for morto nesse momento de prece, Claudius irá necessariamente para o Céu. E é claro que Hamlet não deseja que essa bênção recaia sobre o assassino de seu pai. Quanto a Macbeth, o encantamento, ou a “superstição”, está ligada à palavra “amém” (Cena II, Ato II). Quando vai assassinar o rei Duncan, Macbeth ouve o filho do rei sussurrar em meio ao sono: “Deus nos proteja!” O assassino tenta dizer “amém”, mas não consegue pronunciar a palavra. Depois fica apavorado, julgando que esse acontecimento é um sinal claro de que foi amaldiçoado pelo seu crime.

Bruxas, feiticeiros e homens com poderes mágicos

Na obra de Shakespeare, encontramos tanto o que poderíamos chamar de magos brancos ou mágicos (como é o caso de Próspero, de A Tempestade), como de magos negros, como as três bruxas videntes de Macbeth ou a terrível Tamora, rainha dos Godos, uma bruxa sensual e sádica, principal vilã da tragédia Titus Andrônicus.

A bruxa mais impressionante de Shakespeare, porém, é mesmo Lady Macbeth. Apesar de chamada por Macbeth por adjetivos muito carinhosos (“meu querido amor”, “minha pombinha”), Lady Macbeth demonstra ser uma fiel seguidora de Satanás. Em seu famoso monólogo da Cena V, Ato I, a “doce” senhora invoca, literalmente, os demônios: “Acorrei, espíritos que velais sobre os pensamentos mortais!… Fazei com que eu transborde da mais implacável crueldade… Convertei meu leite em fel, vós, gênios do crime, do lugar de onde presidis, sob substâncias invisíveis, a hora de fazer o mal! Vem, noite tenebrosa!… Envolve-me com a mais sombria fumaça do inferno!…”

Em Macbeth, A Tempestade e O Sonho de Uma Noite de Verão, encontramos também: poções e objetos mágicos, palavras mágicas ou encantamentos, maldições e bençãos. Além disto, encontramos exemplos do que hoje chamaríamos de poderes paranormais, como, por exemplo, o poder de cura através do toque, uma das habilidades do mago Próspero.

Interação Macrocosmo-Microcosmo

Em todas as principais tragédias de Shakespeare, encontramos uma interação entre as ações dos personagens principais e o Cosmos, a natureza como um todo. A boa conduta dos heróis, a vitória ou a vingança justas tem o poder de colocar toda a natureza em seus trilhos corretos. Más atitudes e pecados também influenciam o mundo como um todo, trazendo azar para os homens e desarmonia entre as forças da natureza, chegando até mesmo à catástrofes naturais. Essa relação, herança da Tragédia Ática (o melhor exemplo está em Édipo-Rei, de Sófocles), permanece acentuadamente em Shakespeare. O equilíbrio ou desequilíbrio de um herói como Hamlet, Macbeth ou Otelo significa equilíbrio ou desequilíbrio na Dinamarca, na Escócia ou em Veneza como um todo. E mais até do que isso: o desequilíbrio do herói influencia o mundo inteiro, as energias vindas do Céu, provocando um momentâneo enlouquecimento de toda natureza. Como diz o nobre Ross em Macbeth, Cena IV, Ato II: “Os céus, agitados pela ação de um homem, ameaçam esse sangrento palco…”

Oráculos

Tanto na Tragédia Ática quanto na Elizabetana, encontramos a presença de oráculos, arautos da inexorabilidade do destino. A grande diferença é que, na Tragédia Renascentista, existe um maior peso do livre-arbítrio humano. O herói é, agora, capaz de interferir sobre as predições do oráculo, modificando seu destino.

Elementos Míticos

A tradição greco-romana era a maior influência cultural durante o Renascimento europeu. Não é estranho, portanto, que encontremos em Shakespeare, diversos temas e personagens claramente inspirados na mitologia. Cupido, o deus do amor, é citado em O Sonho de Uma Noite de Verão. Em A Tempestade, encontramos Ísis, a mensageira dos deuses, Ceres, deusa da fertilidade, e Juno, deusa do casamento. Puck, embora seja descrito como um gnomo, tem a aparência física de um sátiro, com pequenos chifres e pés de cabra. Em Macbeth, há uma fantástica aparição de Hécate, deusa da lua e rainha das Bruxas.

A utilização de elementos místicos, sobrenaturais e religiosos é apenas um dos muitos recursos utilizados por Shakespeare para despertar nossas fantasias e emoções. Porém, é interessante perceber como, num mundo dessacralizado como o que hoje vivemos, estes temas permanecem vivos e interessantes. Talvez seja um indício de que, sob a nossa armadura profana, racionalista e agnóstica, permaneça o encantamento da fé, do mistério e da fantasia. Palavras que, felizmente, permanecem intrinsecamente relacionadas ao grande encanto do teatro.