Florença, Sec. XVI |
Como já disse, um aspecto interessante de Evola, é quem embora ele se foque muito no esoterismo, ele me parece mais um antropólogo existencial. Seu vasto conhecimento sobre diversas tradições, o permite enxergar as mudanças que essas tradições vão sofrendo ao longo do tempo até se degenerarem.
Conhecimento que considero até assustador, nunca vi ninguém falar com tanta propriedade de tradições nórdicas, depois saltar para as do mediterrâneo, e polinésios, africanos. Evola parece uma enciclopédia do assunto.
Em seu livro "Revolta Contra o Mundo Moderno" Julius Evola aponta, de maneira breve e sucinta, pontos em relação a todas as formas tradicionais de civilização, e começa sua famigerada obra pontuando as noções tradicionais de realeza. Como não faço parte da "nova direita" (geralmente os grupos de estudos evolianos), tradicionalistas radicais, ou qualquer outro grupo político, definirei a obra sob minha perspectiva, e deixarei que o próprio Evola fale por si.
Agir sem agir
Segundo os aspectos tradicionais, sempre existiu a idéia presencial supra-humana (divina) vivendo entre os mortais. O pontifex, o fazedor de pontes, entre o natural e o sobrenatural (ou super-natural, como preferir). Essa figura era o rei.
Essa autoridade no mundo tradicional, apesar do que muitos pensam, não é baseada em qualidades visíveis e pragmáticas. Essencialmente, até mesmo atributos baseado em qualidades naturais e seculares como inteligência, sensatez, habilidade, coragem física, preocupação minuciosa com o bem material coletivo são coisas secundárias na autoridade.
Em um sentido ideal, ela era baseada pela simples existência! Uma autoridade que emanava da "não-ação", naturalmente luminosa, próspera, salvadora. Não baseada em vãs alegações, mas numa poderosa e temível realidade.
Qualidades conceituadas em provas já não são ligadas ao mundo tradicional, pois algo de uma necessidade de se provar, e provas já pressupõe dúvidas, questionamentos.
O direito de depor e o Sol Invictus
A prova era vista como um sintoma natural da autoridade, não seu fundamento.
Em certos povos prevaleceu o costume de se depor o rei/chefe quando ocorria um desastre ou calamidade (derrota em uma guerra, ou simplesmente uma guerra). Isso era sinal de falta de uma força mística da fortuna pelo qual se tinha o direito de ser chefe.
O rei provava sua autoridade na realidade vitoriosa. Exigia-se do soberano a manutenção da qualidade simbólica do "Solar Invictus", caso ele não conseguisse manter essa qualidade, era substituído.
Interessante as pontuações que Evola faz no livro a respeito dessa qualidade, duas delas me chamam a atenção, a dos reis dos bosques de Nemi e de Felipe de Valois. Os reis dos bosques de Nemi, cuja divindade, ao mesmo temporal e sacerdotal, passava para quem tivesse conseguido surpreende-lo e matá-lo. Aqui a prova como combate físico, quando tiver sido esse o caso, é apenas a transposição materialista de algo a que se liga a um significado superior.
A presença vitoriosa era algo que se exigia do rei, o outro caso que mencionei, de Felipe de Valois é igualmente interessante. Nas vésperas da Guerra dos 100 anos, Veneza pediu a Felipe de Valois que provasse seu direito efetivo de ser rei. Se ele for rei da França, realmente, deverá se expor na frente de leões famintos. Leões nunca ferirão um rei legítimo.
Violência, Política e o Simbolismo Polar
Simbolismo Polar, em seu significado para o mundo tradicional, uma estrela polar fica parada em seu lugar, mas todas as estrelas giram à sua volta.O rei deveria ser tradicionalmente essa estrela polar, um motor imóvel que coordena o movimento ordenado.
A ideia de que a autoridade do rei se baseie na concepção política da suprema autoridade, no simples uso da força e violência não é tradicional.
Não se pode conceber a autoridade nas formas tradicionais sem se valer de uma característica importantíssima, relacionada ao seu Simbolismo Polar, que é o atributo fundamental da estabilidade; a PAZ.
Na paz, se reconhece o verdadeiro chefe.
Paz, serenidade, solidez, a firmeza, são os atributos relacionados a montanha, são conceitos de glória. Paz não está dissociada do elemento triunfal; Segundo como ele pontua em Kung-Tse: "O homem designado para soberania tem um princípio de estabilidade e de calma".
Na base da tradição irânica, chega-se precisamente à concepção metafísica do Império, como uma realidade, não imposta pela força, mas naturalmente.
Nobres Tradicionais
A concepção tradicional desta é baseada espiritualmente, fundamentalmente representada na vitória do cosmos contra o caos. Nobres são aqueles que visavam construir a vida para além dos limites da natureza e da existência empírica e contingente.
É igualmente anti-tradicional, segundo Evola, a concepção de autoridade passada simplesmente por hereditariedade, o que já descarta a importância do sangue no processo.
Autoridade tradicional é manifesta na realidade, e é indubitável. Algo que está além, tanto da individualidade (paixões pessoais) quanto do coletivo (o nobre não é conduzido pelo coletivo, ele é quem conduz), e raças biológicas (não vejo diferença entre os que se curvam ao coletivo, ou a raças biológicas, essencialmente é a mesma coisa). A transcendência é manifestada na pura e simples vontade de potência Nietzcheana, não dissociada, lembrando, do conceito de paz e justiça, relacionadas ao fundamental Simbolismo Polar.
Nobres etíopes |