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quarta-feira, 17 de julho de 2013

La Rochefoucauld - Nobre, militar, conspirador, político e escritor

"Muito teríamos que nos envergonhar das nossas melhores ações, se se soubessem os motivos que tivemos para praticá-las."


Uma biografia sucinta de La Rochefoucauld

A fortuna da família  La Rochefoucauld começou em  1515, quando François I foi agraciado com o título de conde pelo rei da França. Todos os seus descendentes primogênitos perpetuaram este prenome Fraçois (Francisco), conservando igualmente o título de nobreza. O neto de François I, ou seja, François III, foi um dos chefes do partido protestante. O filho deste, François IV, nascido protestante se converteu ao catolicismo. Seu filho, François V, foi agraciado com o título de duque por decreto do rei Luís XIII; é o pai de François VI, duque de La Rochefoucauld, o moralista que este artigo apresenta. Trata-se, portanto, de uma tradicional família envolvida na história da nobreza e na história da política do reino da França. Apesar de sua vida atribulada, como se verá a seguir, La Rochefoucauld passou a maior parte de sua carreira militar e política em Paris, onde sua vivacidade de espírito e suas argutas observações sobre o ambiente da corte monárquica lhe granjearam grande simpatia, mas também inimizades.
François VI nasceu em Paris, no dia 15 de setembro de 1613.
No dia 20 de janeiro de 1628, aos 14 anos portanto, casa-se com Andreé de Vivonne. O casal terá oito filhos. Em 1629 participa de uma campanha militar na Itália, no passo alpino de Susa, de onde retorna como capitão de regimento, o que lhe vale a entrada nos círculos da corte.
Nos anos de 1635 e 1636 combate como voluntário contra os espanhóis em Avein, perto de Liège, na Bélgica. De retorno a Paris tem uma desagradável surpresa: é exilado por ter criticado as operações bélicas. Segundo outros, a verdadeira causa do seu exílio residira no fato de ele ser o confidente da rainha em suas tramas contra o primeiro-ministro Cardeal Richelieu. Na verdade, não se trata propriamente de exílio, uma vez que é confinado nas terras de seu pai, no interior do país.
Em 1639, ele se engaja uma vez mais no exército e participa de uma campanha militar em Flandres. Após sua volta, encontra o primeiro-ministro Richelieu que tenta uma conciliação com ele. Mas este prefere conservar sua liberdade e se retira para suas terras no interior.
Em dezembro de 1642 o primeiro-ministro morre. La Rochefoucauld, já privando da vida da corte, cria uma série de intrigas, tentando atingir o novo primeiro-ministro Mazarino, cuja estrela brilha sempre mais.
Entre 1643 e 1646, participa de várias outras campanhas militares, mas fica seriamente ferido em Mardick. Abandonando o campo de batalha, compra, pouco tempo depois, o cargo de governador de Poitou (a compra de cargos e funções era pratica corrente na época).
Entre os anos de 1648 e 1653 a França é abalada pelas Frondas, distúrbios que envolveram todos os segmentos da sociedade, ocorridos durante a regência de ana da Áustria (mãe de Luiz XIV, ainda menor de idade) e o ministério do cardeal Mazarino. Os parlamentares reclamavam do poder exagerado dos intendentes e do conselho do rei, os nobres não aceitavam sua exclusão do poder, a burguesia e o povo se irritavam com a sempre maior pressão fiscal que os sufocavam em virtude das más colheitas e da retraçao dos negócios. As revoltas se sucederam, levando a França a um passo da guerra civil generalizada. Houve ainda a Fronda dos príncipes, desencadeada pela prisão dos príncipes de Condé e de Conti. Esta dividiu a França e as forças dos dois lados entraram em guerra. Depois de vitórias e derrotas de ambos os lados, com forças militares esgotadas, finalmente foi selada a paz. E o absolutismo, que estava na raiz dessas sublevações, acabou saindo fortalecido, alcançando sua maior expressão na pessoa do rei Luiz XIV que, entrementes, atingira a maioridade e passou a governar a França.
La Rochefoucauld, então governador de Poitou, no início das Frondas apoia a causa da corte. Mas descontente com a recusa de Mazarino em conceder-lhe uma série de benefícios, em dezembro de 1648 toma o partido da Fronda. Na batalha de Lagny, em fevereiro de 1649, é ferido com bastante gravidade em combate. No mês seguinte, celebra-se a paz de Rueil e todos os revoltosos são anistiados. E La Rochefoucauld é agraciado, além do mais, com uma sére de privilégios que, no entanto, pouco depois são todos revogados. A paz dura pouco. De fato em 1650, eclode a Fronda dos príncipes. Durante a prisão destes, La Rochefoucauld organiza a luta que se transforma em guerra civil, comanda as tropas revoltosas. Mas aquelas favoráveis ao rei, em represália, pilham e destroem o castelo dele em Verteuil. Em setembro desse ano, são selados novos termos de paz, seguidos de nova anistia geral. Ele negocia a libertação dos príncipes e assina com eles um tratado de aliança. Novas intrigas e controvérsias entre os paritdários de um lado e de outro levam a novas enfrentamentos e combates nos anos de 1651 e 1652, lutas internas que se transforam uma vez mais em guerra civil. Em julho de 1652, no combate da localidade de Saint-Antoine, La Rochefoucauld leva um tiro de fuzil no rosto e por pouco não perde a visão. Deixa os campos de batalha e se refugia em Damvillieres, Luxemburgo. Finalmente, em 1653 terminam as guerras internas das Frondas, mas La Rochefoucauld recusa a anistia e se retira para suas propriedades em Verteuil, interior do país.
Em 1656, retorna a Paris, e restabelece todos os seus contatos entre seus pares nobres e mesmo na corte. Frequenta reuniões de todos os tipos, nas quais comparecem burgueses, homens de negócios, políticos, literatos, filósofos, artistas e padres. Em 1659 é readmitido nos círculos da corte e, em julho, passa a receber uma pensão do rei. Nesse mesmo ano publica um autorretrato, primeiro texto literários - muito breve - de La Rochefoucauld . Mas em 1663, publica em Bruxelas e clandestinamente Mémories (Memórias). Ante o escândalo suscitado por esse escrito, o autor o desautoriza e nega sua autenticidade.
No ano de 1663 são feitas várias cópias das máximas e são postas em circulação entre amigos, numa espécie de consulta de seu autor sobre a oportunidade de publicá-las. Uma dessas cópias chega a Holanda, onde são publicadas clandestinamente no final de 1663, mas com data impressa de 1664, com o título "Sentenças e máximas da moral". Ante o fato, La Rochefoucauld consegue, em janeiro de 1664, o privilégio real para publicar suas máximas. Em outubro termina a impressao oficial da obra, que aparece com a data de 1665 e com o título de Réflexions ou sentences et maximes morales (Reflexoes ou sentenças e máximas morais). Em setembro de 1666 é publicada a segunda edição do livro.
No ano de 1667, aos 54 anos de idade, La Rochefoucauld participa de sua última campanha militar, no assédio à cidade de Lille. Em 1670, morre Andrée de Vivonne, esposa de La Rochefoucauld. Em 1672, ele perde também dois filhos na passagem do rio Reno, em campanha militar. Entrementes, em 1671, o livro do moralista chegava à terceira edição. Em 1675 sai a quarta edição e, em 1678, a quinta.
Desde 1669, La Rochefoucauld sofria de gota. Tentou curas variadas, mas sem sucesso. Aos 66 anos de idade, ele expira em Paris (17 de março de 1680).

domingo, 28 de outubro de 2012

Breve introdução a dois filósofos moralistas do Séc. XVII

La Rochefoucauld e La Bruyère


Estes dois filósofos moralistas franceses viveram no século mais marcante do absolutismo francês. O absolutismo se caracterizava pela concentração de todo poder na pessoa do rei. De fato, o monarca personificava o poder executivo, o legislativo e o judicial. Além disso, exercia grande influência na Igreja e esta era lhe subserviente, uma vez que predominava a doutrina de que a autoridade do rei provinha diretamente da vontade de Deus. Em decorrência, desobedecer ao monarca seria desobedecer a Deus. A expressão máxima do absolutismo na França foi o rei Luís XIV, que teria proferido a célebre frase "L'État c'est moi" (O Estado sou eu).
Vivendo nessa sociedade dominada pela nobreza que privava da corte monárquica e que concentrava em suas mãos todos os grandes negócios do reino, La Rochefoucauld e La Bruyère, nobres também eles (o primeiro por direito hereditário, o segundo por aquisição de cargo), pudeream observar de perto a frivolidade, a hipocrisia, a corrupção e a ambição desmedida da imensa maioria dos membros dessa nobreza.
Enquanto La Rochefoucauld, militar atuante, se envolveu em tramas, complôs e rebeliões, provocando crises políticas no reino, La Bruyère viveu a serviço de nobres do mais alto escalão como preceptor do neto de um príncipe, observando de perto a vida da corte em seus círculos mais próximos do rei e do primeiro-ministro.
Fruto da longa experiência nesse meio, os dois optaram por registrar suas impressões a respeito. Observadores argutos, nada lhes escapa. La Rochefoucauld prefere refletir mais a fundo, filosofar. La Bruyère também filosofa, mas privilegia a descrição de tipos humanos que cruzaram por sua vida na corte. Ambos, porém, tiram conclusões de grande alcance ao analisar o comportamento humano nessa sociedade do século XVII. Suas máximas e sentenças decorrentes dessa análise se configuram como verdadeiras pérolas de sabedoria, evidenciando reflexão profunda sobre a vida humana e sobre os princípios que devem ou deveriam regê-la.
Nessa ótica, mais que criticar e condenar a sociedade de então, La Rochefoucauld tece profunda reflexões sobre os mais variados temas, como a verdade, a virtude, o bem, a sociedade, o amor, os vícios, as inclinações humanas e muitos outros, resultando em máximas e sentenças de caráter moral, em que sobressaem precisamente os valores éticos que deveriam ser cultivados e vividos pelo homem. Por essa razão, ele foi denominado de filósofo moralista.
Ao contrário, La Bruyère mescla sentenças e máximas com a descrição de tipos humanos, criticando diretamente atitudes comportamentais observadas por ele, condenando as com o intuito, segundo ele, de corrigir os defeitos, vícios e desvios e, desse modo, melhorar o homem e depurar a sociedade. Mais que filósofo moralista é considerado, por seus críticos, sociólogo ou psicólogo social ou até mesmo antropólogo, sem poupar-lhe, no entanto, o epíteto de moralista.
De qualquer forma, os dois escritores do século XVII representam a escola moralista que teve grande penetração tanto nos meios intelectuais como entre as camadas menos letratas do povo.

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