quinta-feira, 17 de julho de 2014
Jacob Boehme
Jakob Böhme, por vezes grafado como Jacob Boehme, (Alt Seidenberg, Silésia, 24 de abril de 1575 — Görlitz, 17 de novembro de 1624) foi um filósofo e místico luterano alemão.
Vida
Böhme passou por experiências místicas em toda a sua juventude, culminando em uma epifania no ano de 1600 que teria lhe revelado a estrutura espiritual do mundo, assim como as relações entre o Bem e o Mal. Na época, ele decidiu não divulgar a sua experiência e continuou trabalhando como sapateiro na cidade de Goerlitz, na Silésia, constituindo família e tendo quatro filhos. Entretanto, após uma outra visão em 1610, ele começou a escrever sua primeira obra, Aurora (Die Morgenroete im Aufgang), resultante dessa iluminação. O tratado foi publicado e divulgado em forma de manuscrito até que uma cópia caiu nas mãos de Gregorious Ritcher, principal pastor de Görlitz, que o considerou herético e ameaçou exilar Böhme, se ele não parasse de divulgar os seus escritos. Após anos de silêncio, os amigos e patronos de Böhme conseguiram convencê-lo a continuar escrevendo e em pouco tempo novas cópias escritas a mãos começaram a circular.
Seu primeiro livro impresso, Christosophia (der Weg zu Christo), foi publicado em 1623 e causou outro escândalo. Em um curto período de tempo, entre 1618 e 1624), Böhme produziu uma enorme quantidade de tratados e epístolas, incluindo suas maiores obras De Signatura Rerum e Misterium Magnum. Suas idéias conquistaram muitos seguidores em toda a Europa e os seus discípulos ficaram conhecidos como os boehmistas.
Como uma ironia do destino, Johan G. Gichtel, o filho do principal antagonista de Böhme, o pastor Gregorious Ritcher, se tornou um discípulo indireto, comentador e editor de uma coleção de trechos das obras de Böhme, os quais foram mais tarde publicados no ano de 1682 em Amsterdã. As obras completas de Böhme só foram publicadas pela primeira vez em 1730. Johan G. Gichtel também escreveu uma autobiografia espiritual intitulada A Senda do Homem Celeste, descrevendo como colocou em prática tudo o que aprendeu com o estudo das obras de Böhme, chegando, segundo ele, à realização da senda espiritual. A Senda é considerado um clássico do pensamento místico-cristão de sua época.
Como conseqüência de suas idéias e escritos, Böhme passou o último ano de sua vida exilado em Dresden, retornando à Görlitz unicamente para dar um adeus final à vida aos 49 anos de idade.
Nos dias atuais, as obras de Böhme são estudadas e admiradas por diversas comunidades de espiritualistas, místicos, martinistas, teosofistas e filósofos em todo o mundo.
Aurora oder Morgenröte im Aufgang
Este trabalho representa a experiência religiosa de Boehme. Aurora oder Morgenröte im Aufgang é um título que faz alusão à esposa do Cântico dos Cânticos, 6.10 ("Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército com bandeiras?"). Trata-se do título do trabalho principal do místico.
A interpretação alegórica, segundo a qual o amor de Deus por Israel e o do povo por seu Deus são representados como as relações entre dois esposos, tornou-se comum entre os judeus a partir do séc. II DC, tal interpretação tem paralelo no tema da alegria nupcial que os profetas desenvolveram a partir de Oséias .
Orígenes seguia essa mesma linha, mas via as núpcias de Cristo com a Igreja, ou a união mística da alma com Deus , São João da Cruz teria o mesmo entendimento.
Aurora foi um livro que influenciou Gottfried Wilhelm Leibniz e, mais tarde, Goethe, o idealismo alemão, seu ambiente romântico, ou seja, Novalis , Schelling , Hegel , Philipp Otto Runge e seus círculos de amigos, tanto pelo conteúdo como pela plasticidade enérgica e a sensualização do sobrenatural, uma densidade poética apenas comparável aos salmistas e profetas.
Filosofia
Ao contrário de uma concepção medieval e até neoplatônica da divindade, ele não a concebe como estática, mas nela descobre uma luta ardente de princípios opostos, sendo que a principal preocupação dos escritos de Böhme era a natureza do Pecado, do Mal e da Redenção. De acordo com a teologia luterana, Böhme pregava que a humanidade tinha caído do estado de divina graça para um estado de pecado e sofrimento, que as forças do Mal incluíam os anjos caídos que tinham se rebelado contra Deus e que o objetivo de Deus era restaurar o mundo ao seu estado natural de graça.
Livre-Arbítrio
Na cosmologia de Böhme, é necessário que a humanidade se voltasse para Deus a fim de que a criação voltasse ao estado original de harmonia e de inocência, permitindo ao homem atingir uma nova auto-consciência pela interação com a criação que se tornaria, ao mesmo tempo, parte Dele e distinta Dele. Deste modo, o livre arbítrio seria o mais importante dom dado a humanidade por Deus, permitindo-nos buscar a graça divina na condição de uma livre escolha, enquanto permitiria aos seres humanos manter as suas individualidades.
Cristo
Böhme via a encarnação de Cristo, não como um sacrifício oferecido para perdoar os pecados dos homens, mas sim como uma oferta amorosa e divina para a humanidade, mostrando a vontade de Deus suportando igualmente o sofrimento terrestre como um aspecto necessário da criação. Ele também acreditava que a encarnação de Cristo expressava a mensagem que um novo estado de harmonia seria possível.
Aforismas
"Meus escritos são para aqueles que desejam receber a verdade, num estado de mente simples e infantil, pois eles possuirão o reino de Deus. Escrevi unicamente para aqueles que buscam; para os astutos e expertos, nada tenho a dizer". (Threefold Life, xv.65).
"Nem o dinheiro, nem as posses mundanas, nem a ciência, nem a autoridade, nada disso trará a vós o doce descanso do paraíso, que só pode ser atingido através do nobre conhecimento de si mesmo. Lá poderás vestir tua alma; trata-se da pérola que não é devorada pelas traças, e que nenhum ladrão pode levar. Busque-a, e encontrarás um nobre tesouro". (Three Principles, ix.1).
"Não escrevo com outro objetivo senão que o homem aprenda a conhecer a si mesmo". (Three Principles, IV.64).
"Toda a nossa doutrina nada mais é do que uma instrução de como o homem pode criar um reino de luz dentro de si mesmo... Aquele em quem flui esta fonte de poderes divinos carrega consigo a imagem divina e a substancialidade celeste. Nele Jesus nasceu da Virgem, e ele não irá perecer na eternidade". (Six Points, VII 33).
"O homem natural nada sabe sobre os mistérios do reino de Deus, porque ele está fora e não dentro do estado da divindade, sendo provado diariamente pela ação dos filósofos que brigam por causa dos atributos e da vontade de Deus; de fato, eles não conhecem a Deus, porque não ouvem a palavra de Deus dentro de suas próprias almas". (Cartas, XXXV. 5).
"Quando a razão externa comanda as coisas deste mundo; como o infortúnio recai sobre o piedoso e o descrente, e como todas as coisas estão condenadas à morte e à destruição - se a razão acreditar que nada salvará o virtuoso do pesar e da dor, mas que tanto ele, como o fraco entra, dolorosamente, no vale da morte, então a razão do homem pensa que todas as coisas se devem ao puro acaso, e que não há Deus para cuidar daqueles que sofrem". (Contemplation, I,1).
"Todos aqueles que desejam falar ou ensinar os mistérios divinos devem possuir o Espírito de Deus. O homem deve reconhecer em si a luz divina da verdade, e nessa luz as coisas que ele deseja apresentar como sendo verdade. Ele nunca deve estar sem esse auto conhecimento divino, e nem fazer com que a força de seus argumentos dependa meramente do raciocínio externo ou de interpretações literais da Bíblia". (Menschwerdung, I. I, 3).
"De que adianta ficar consultando a Bíblia, conhece-la de memória, mas não conhecer o Espírito que inspira os homens santos que escreveram aquele livro, nem a fonte da qual receberam tal conhecimento? Como posso esperar compreende-lo em verdade, se não possuo o mesmo espírito que eles?" (Tilk. II. 55).
"A verdadeira compreensão deve vir da fonte interior e penetrar a mente do Verbo vivo de Deus, dentro da alma. A menos que isso ocorra, todo ensinamento sobre as coisas divinas é inútil e desprezível". (Cartas, XXXV. 7).
"Não pretendo afastar os homens do Verbo enquanto escrito e ensinado; mas meus escritos pretendem conduzi-los de uma mera crença histórica para uma fé viva, ao próprio Jesus Cristo (a Luz e a Verdade). Toda pregação e ensinamento é inútil se não passar de conversa, e se o pregador ou mestre não tiver o poder de Cristo, se não é o Cristo propriamente dito por meio do Verbo, que age dentro daqueles que ensinam e daqueles que ouvem". (Richter, 45).
"Não estou coletando meus conhecimentos das letras e livros, mas do meu próprio ser; porque o céu e a terra, com todos os seus habitantes, e mais que tudo, o próprio Deus, está no homem". (Tilk. II. 297).
"O espírito do homem não veio meramente das estrelas e dos elementos; ele traz oculta em si uma centelha da luz e do poder de Deus. Não é à toa que Moisés (Gênesis I) diz: "Deus criou o homem à Sua própria imagem. Para ser Sua própria imagem Ele o criou". (Aurora, Prefácio, 96).
"A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino". (Aurora, Prefácio, 98).
"Assim como o olho do homem busca as estrelas de onde teve sua origem primitiva, a alma penetra e vê no estado divino do ser, onde vive". (Aurora, Prefácio, 99).
"Não há centelha de vida divina naquele que está sem Deus. Não se deve culpar à Deus por isso, mas a própria pessoa. Tais pessoas tem a si mesmas, e por vontade própria, entraram em tal estado, abafando a consciência elevada, enquanto que a jóia preciosa, embora desconhecida deles, continua oculta no centro. Deixe, portanto, que eles saiam novamente da ignorância intencional ou malignidade, por vontade própria, e entrem novamente na vontade de Deus". (Menschwerdung, 3, 5).
"Deus é a vontade da sabedoria eterna". "A verdadeira fé não se trata apenas de um certo método de pensar, ou a crença em certas ocorrências históricas, mas no recebimento do espírito e poder de Cristo no ser". (Cartas, XLVI. 39).
"Essa luz e esse poder de Cristo surge em Seus filhos dentro da fundação interior e ilumina a totalidade de suas vidas. Dentro dessa fundação encontra-se o reino de Deus no homem" (Communion, V. 18).
"O único e verdadeiro caminho através do qual Deus pode ser percebido em Sua Palavra, Essência e Vontade, é quando o homem alcança um estado de unidade consigo mesmo, e quando - não só em sua imaginação, mas em sua vontade, possa deixar tudo o que é eu pessoal, ou o que pertence ao eu: dinheiro e bens, pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filhos, corpo e vida, quando o seu próprio eu se transforma num nada. Ele deve entregar tudo e se tornar mais pobre que um pássaro no ar, que possui um ninho. O homem não deve ter um ninho para o seu coração neste mundo. Não que se deva fugir de casa, abandonar esposa, filhos ou parentes, cometer suicídio, ou jogar fora suas propriedades, a fim de não estar corporalmente presente; deve-se matar e anular a vontade própria, aquela que clama por todas essas coisas como sua possessão. O homem deve entregar tudo isso ao seu Criador, e dizer com todo consentimento de seu coração: 'Senhor, tudo é seu'! Sou indigno de governar tudo isso, mas como Tu me colocastes ali, devo cumprir meu dever entregando minha vontade a Ti, de forma total e completa. Aja através de mim da forma que quiseres, a fim de que a Sua vontade seja feita em todas as coisas e em tudo que eu seja chamado a fazer para o benefício de meus irmãos, a quem sirvo segundo o teu mandamento. Aquele que penetra neste estado de resignação suprema entra em união divina com Cristo, a fim de ver ao Próprio Deus. Ele fala com Deus e Deus fala com ele, ele sabe qual é a Palavra", a. "Essência, e a Vontade de Deus". (Mysterium, XLI. 54-63).
"Siga meu conselho, deixe de buscar o conhecimento de Deus, através da sua vontade egoísta e de teu raciocínio; jogue fora tua razão imaginária, aquela que teu eu mortal pensa que possui, então tua vontade será a vontade de Deus. Se Ele encontrar a Sua vontade como sendo a sua vontade na Dele, então a Sua vontade irá se manifestar em sua vontade, como se fosse em Sua própria propriedade. Ele é Tudo, e o que quer que desejes saber no Tudo está Nele. Não há nada oculto diante Dele, e tu verás em Sua própria luz." (Forty Questions, I.36).
"A vontade deve buscar ou desejar nada mais do que a misericórdia de Deus no Cristo; deve entrar continuamente no amor de Deus, e não permitir que nada a afaste deste objetivo. Se a razão externa triunfa e diz: 'Eu tenho o verdadeiro conhecimento' então a vontade deve fazer a razão carnal curvar-se à terra, fazendo com que entre num estado mais elevado de humildade, e com que repita sempre para si mesma as palavras: 'És tola. Tu nada possuis senão a misericórdia de Deus'. Tente penetrar essa misericórdia e tornar-se um nada em si mesmo, e afaste-se de todo o seu próprio conhecimento e desejo egoísta, reconhecendo-os como algo inteiramente impotente. Então a vontade própria natural, irá entrar num estado de abandono, e o Espírito Santo de Deus irá tomar uma forma viva dentro de ti, inflamando a alma com suas chamas de amor divino. Assim, o conhecimento elevado e a ciência do Centro de todo ser irá surgir. O eu humano irá começar a perceber o Espírito de Deus, tremulamente e na alegria da humildade, e será capaz de ver o que está contido no tempo e na eternidade. Tudo está perto de uma alma nesse estado, pois a alma não é mais propriedade sua, mas um instrumento de Deus. Em tal estado de calmaria e humildade a alma deve permanecer, como uma fonte permanece em sua própria origem, ela deve, sem cessar, atrair e beber daquele poço, e nunca mais desejar deixar o caminho de Deus". (Calmness, 1, 24).
"O Cristo diz: O Filho do Homem não faz nada além do que vê o Pai fazendo. Se o Filho do Homem tornou-se o nosso corpo e Seu espírito o nosso próprio espírito, seria possível não conhecermos à Deus? Se vivemos no Cristo, o Espírito de Cristo verá através de nós e em nós aquilo que deseja, e aquilo que o Cristo deseja veremos e conheceremos Nele. O mundo dos anjos é mais simples e mais claramente compreensível para o homem regenerado do que o mundo terrestre. Ele também vê no céu, e observa a Deus e a eternidade". (Menschwerdung, II. 7,3).
"A nossa visão e o nosso conhecimento estão em Deus. Ele revela a todos neste mundo, segundo a Sua vontade, e na medida em que sabe ser útil para ele. Não estamos em possessão de nosso próprio ser. Nada sabemos sobre Deus. O Deus Propriamente dito é o nosso conhecimento e visão. Não somos nada, a fim de que Ele possa ser Tudo em nós. Devemos ser cegos, surdos e mudos, e não saber nada, não tomar conhecimento de vida que seja propriedade nossa, a fim de que Ele possa ser a nossa vida e a nossa alma, e a fim de que nossa obra possa ser a Sua". (Menschwerdung, II. 7,9).
"Eu nunca desejei saber nada sobre os mistérios divinos, nem compreendo como posso busca-los ou encontrá-los. Tudo o que busquei foi o coração de Jesus Cristo (o centro da verdade), onde devo me ocultar e encontrar a proteção da temível cólera de Deus; peço a Deus sinceramente que me conceda o Seu Espírito Santo e a Misericórdia, que Ele possa me abençoar, conduzir e afastar de mim tudo o que nos separa, a fim de que eu não viva em minha vontade própria, mas na Dele. Engajado nessa busca e nesse desejo sincero, a porta me foi aberta, de modo que em um quarto de hora, vi e aprendi mais do que se estivesse estudado por muitos anos nas universidades." (Cartas, XII 6,7).
"Não sou um mestre da literatura ou das ciências deste mundo, mas um homem de mente simples. Nunca desejei aprender ciência alguma, mas desde tenra idade busquei a salvação de minha alma, e descobrir como poderia herdar ou possuir o reino do céu. Encontrei em meu interior um poderoso contrarium, ou seja, os desejos pertencentes ao corpo e ao sangue; Ingressei numa árdua batalha contra a minha natureza corrupta, e com o auxílio de Deus, decidi superar a vontade demoníaca que havia herdado, vencê-la e penetrar totalmente no amor de Deus no Cristo. Daquele 26 momento em diante, resolvi considerar-me como um morto quanto a minha forma herdada, até que o Espírito de Deus tomasse forma em mim, para que Nele e através Dele, pudesse conduzir a minha vida. Isso era praticamente impossível, mas permaneci firme em minha sincera resolução, travando uma dura batalha contra mim mesmo. Enquanto buscava e lutava, com o auxílio de Deus, uma luz maravilhosa surgiu em minha alma. Era uma luz completamente estranha à minha natureza descontrolada; nela reconheci a verdadeira natureza de Deus e do homem, a relação existente entre eles, algo que nunca havia compreendido, e que nunca teria buscado". (Tilk. 20-26).
"Espero continuamente pelo meu Redentor, desejando me submeter inteiramente à Ele, seja o que quer que Ele faça. Se Ele quiser que eu saiba qualquer coisa, então quero saber; mas se Ele não quer, então não desejo saber. Nele coloquei a minha vontade, meu conhecimento, minha ciência, meu desejo e a minha realização". (Cartas, VIII.60).
"Centenas de vezes já orei à Deus, implorando para que Ele tirasse de mim todo conhecimento, caso esse não servisse para a Sua glorificação e para o melhoramento das condições de meus irmãos, e para que Ele apenas me mantivesse junto ao Seu amor. Mas quanto mais eu oro, mais o fogo interno se inflama, e em tal estado de ignição registro meus escritos". (Cartas, XII.60).
"Agrada ao Supremo revelar seus segredos através do tolo, olhado pelo mundo como sendo um nada; percebe-se que seu conhecimento não procede destes tolos, mas Dele. Portanto, peço que 27 considerem meus escritos como sendo os de uma criança a quem o Supremo manifestou Seu poder. Há tanto dentro deles, que nenhum tipo ou quantidade de argumentação ou raciocínio pode compreender ou alcançar; mas para os iluminados pelo Espírito, sua compreensão é fácil, e não passa de uma brincadeira de criança". (Cartas, XV 10).
"O entendimento nasce de Deus. Não é produto de escolas onde a ciência humana é ensinada. Não condeno o aprendizado intelectual, e se eu tivesse obtido uma educação mais elaborada, com certeza isso seria uma vantagem para mim, quando minha mente recebia o dom divino; mas agrada à Deus, transformar a sabedoria deste mundo em tonteira, e dar Sua força ao fraco, a fim de que todas as coisas se curvem diante Dele". (Forty Questions, XXXVII 20).
"Digo isso diante de deus, e testemunho diante de Seu julgamento, onde todas as coisas devem aparecer, que no meu eu humano, nada sei do que devo escrever; mas quando escrevo o Espírito dita aquilo que devo escrever, e me mostra tudo com tão maravilhosa clareza, que nunca sei se tenho minha consciência neste mundo ou não. Quanto mais eu busco, mais eu encontro, estou continuamente penetrando mais profundamente; sempre penso que minha pessoa pecadora era muito inferior e indigna para receber o conhecimento de mistérios tão exaltados e elevados; mas em tais momentos, o Espírito levanta o seu estandarte, dizendo: "Olhe! Aqui deves viver eternamente e ser coroado. Por que estais aterrorizado?" (Cartas, II. 10).
"Algumas vezes posso escrever com mais elegância e com um melhor estilo, mas o fogo que queima dentro de mim, me impulsiona. Minha mão e minha caneta tentam seguir os pensamentos, da melhor forma possível. A inspiração vem como uma chuva abundante. Aquilo que alcanço, eu tenho. Se fosse possível alcançar e descrever tudo o que percebo, meus escritos seriam mais explícitos". (Cartas,X45).
"Assim como o relâmpago surge no centro, e num momento desaparece novamente, o mesmo ocorre com a alma. Quando durante sua batalha ela penetra as nuvens, vê a face de Deus como um raio de luz; mas as nuvens do pecado logo se juntam à sua volta, encobrindo sua vista". (Aurora, XI. 76).
"Enquanto Deus me guia com Sua mão protetora, entendo aquilo que escrevi; mas quando Ele se oculta, não reconheço meu próprio trabalho; isso prova a impossibilidade de penetrar os mistérios de Deus sem o auxílio do Espírito Santo". (Cartas, X. 29).
"Se alguém deseja me seguir na ciência das coisas, das quais escrevo, que sigam os vôos de minha alma e não os de minha caneta." (Three Principles, XXIV. 2).
"Acima de tudo, examine consigo mesmo, o propósito de conhecer os mistérios de Deus, e se estais preparado a empregar aquilo que receber para a glorificação de Deus e para o benefício do próximo. Você está pronto para morrer inteiramente para sua vontade terrestre e egoísta, e desejas, sinceramente ser um com o Espírito? Aquele que não tiver tais propósitos elevados, e busca apenas um conhecimento que satisfaça o seu eu, ou para ser admirado pelo mundo, não está apto a receber tal conhecimento". (Clavis, II. 3).
"Se alguém deseja me seguir, que não seja intoxicado pelos pensamentos e desejos terrestres, mas que seja cingido pela espada do Espírito, pois terá que descer à terrível profundidade, por não dizer ao meio do reino do inferno. É muito duro lutar contra o demônio entre o céu e a terra, por ele ser um poderoso senhor. Durante tais batalhas passei por experiências amargas, que encheram meu coração de dor. Freqüentemente o sol desaparecia da minha vista, mas depois surgia novamente e quanto mais o sol se punha, mais lindo, claro e magnífico era o seu raiar". (Aurora, XIII. 20).
"Somos todos um só corpo em Cristo e todos temos o Espírito de Cristo ao nosso alcance. Se, portanto, penetrarmos o Cristo, poderemos ver e conhecer todas as coisas pelo poder de Seu Espírito". (Forty Questions, XXVI. 5).
"Não posso descrever a totalidade da divindade como se fosse um círculo, porque Deus é imensurável; no entanto, a Divindade não é inconcebível ao espírito que repousa no amor de Deus. Tal espírito pode atingir a verdade eterna, de parte em parte e desta forma, acabará compreendendo a totalidade". (Aurora, X. 26).
"Se tenho que tornar compreensível a geração eterna, a revelação ou a evolução de Deus, fora de Seu próprio ser sou obrigado a usar uma maneira diabólica (sabidamente errônea), como se a Luz eterna tivesse se se inflama nas trevas, e como se a Divindafe tivesse um princípio. Não posso instrui-los de outra forma, se pretendo que vocês adquiram uma concepção aproximada da Divindade. Não há nada primeiro e nada depois na geração e evolução, mas ao descrevê-la tenho que colocar uma coisa depois da outra". (Aurora, XXIII. 17-33).
"Não podemos falar a língua dos anjos, mesmo se pudéssemos tudo pareceria como se estivéssemos falando sobre seres criados, para os habitantes deste mundo, e diante da mente terrestre se apresentaria como algo terrestre. Somos apenas parte do todo; só podemos conceber e falar de partes, mas não do todo". (Threefold Life, II 66).
"Advirto ao leitor, que toda vez que falar da Divindade e de seu grande mistério, não compreenda o que digo como se pretendesse que fosse compreendido num sentido terrestre, mas tome isso de um ponto de vista elevado, num aspecto supra natural. Freqüentemente sou forçado a dar nomes terrestres ao que é celeste, para que o leitor possa formar um conceito, e ao meditar sobre ele possa penetrar no fundamento interno". (Grace, III 19).
"Dentro do não fundamento (que alguns escritores denominam de 'Não-Ser' - um termo sem nenhum significado) não há nada senão tranqüilidade eterna, um eterno repouso sem começo e sem fim. É verdade que mesmo ali Deus tenha uma vontade, mas essa vontade não pode ser objeto de nossa investigação, já que qualquer tentativa de investigá-la produziria pura confusão em nossa mente. Concebemos essa vontade como constituindo o fundamento da Divindade. Ela não tem origem, mas concebe a si mesma em si mesma". (Menschwerdung, XXI. 1).
"A Inteligência Divina é uma vontade livre. Ela nunca se origina do poder ou através do poder de qualquer coisa. Ela é ela mesma, e reside unicamente dentro de si, sem ser afetada por qualquer coisa, porque não há nada fora ou anterior á ela". (Mysterium, XXIX. 1).
"A Liberdade Eterna possui a vontade, e é a vontade. Na vontade há um desejo de realizar ou um impulso de desejar alguma coisa. Não há nada além dessa vontade, para o que tal impulso pudesse ser dirigido. A vontade portanto vê em si mesma como na eternidade; ela vê o que é, e assim cria em si um espelho". (Forty Questions, I.13).
"Deus é a vontade da sabedoria eterna, a sabedoria eternamente gerada Dele, em Sua revelação. Essa revelação ocorre através de um espírito ternário. Primeiro através da Vontade eterna, em seu aspecto de Pai; depois, através da Vontade eterna em seu aspecto de amor divino, o centro ou o coração do Pai; e finalmente através do Espírito, o poder que emana da vontade e do amor." (Mysterium I. 2,4).
"O Pai é a vontade do não fundamento (Absoluto). Essa vontade concebe em si mesma o desejo de manifestar-se. Esse amor ou desejo é o poder concebido pela vontade ou Pai, dentro de si - ou seja, o Filho, coração ou morada (a primeira fundação dentro da não fundação ou não fundamento), o primeiro princípio dentro da vontade. A vontade é falada através da concepção de si mesma, e essa emissão da vontade em fala ou respiração é o Espírito da Divindade".6 (Mysterium, I.2).
"A primeira vontade inconcebível, sem qualquer origem, gera em si mesma o único e eterno Deus - uma vontade conceptível, sendo o filho da vontade sem causa, mas igualmente eterna com a primeira. Esta outra vontade é a sensibilidade e conceptibilidade da vontade primordial, pela qual aquilo que não é nada se encontra como sendo algo. Ao fazer isso, a vontade inconcebível sem causa, emerge o que encontrou eternamente, penetrando um estado de meditação eterna sobre seu próprio ser. A primeira vontade sem causa é chamada de Pai eterno; a vontade concebida e gerada do não fundamento é seu Filho congênito; a emissão da vontade insondável através do Filho concebido é o Espírito. Assim, a vontade única do Absoluto, através da concepção primeira, eterna e sem princípio, manifesta uma atividade ternária, mas permanece sendo uma vontade indiferenciada". (Grace, I 5-12).
"A primeira atividade em Deus é a contemplação divina ou sabedoria, pela qual o Espírito de Deus, com seus poderes exalados, atua como um poder único e uniforme. Não tem começo nem fim, mas é infinito, e seu poder formativo não tem limites". (Grace, I. 14).
"A sabedoria coloca-se diante de Deus como um espelho ou reflexo, onde a Divindade vê seu próprio ser e todas as grandes maravilhas da eternidade, que não tem começo, nem fim, no tempo, cujo princípio e o fim são eternos. A sabedoria é uma revelação da Santíssima Trindade; isso não deve ser compreendido como se ela revelasse a si mesma à Deus, através de seu próprio poder ou escolha, mas o centro divino, o coração e essência de Deus, torna-se revelado nela. Ela é como um espelho da Divindade, e como qualquer outro espelho, simplesmente permanece quieta; ela não produz imagem alguma, mas simplesmente a concebe". (Menschwerdung, I, 1, 12).
"A sabedoria é a panavra revelada do poder divino, conhecimento e santidade, uma antítese da insondável unidade na essencialidade, onde o Espírito Santo forma uma imagem. Ela é passiva, mas o Espírito de Deus é ativo, como a alma no corpo". (Clavis, V. 18).
"O Espírito ternário é uma unidade, um único ser; ou falando mais corretamente, não um ser, mas Razão eterna; conseqüentemente um mistério comparável à inteligência do homem, que também é incompreensível". (Mysterium, I. 5).
"Deus em seu aspecto primitivo não deve ser concebido como um ser, mas como um poder ou inteligência constituindo a potencialidade para ser - uma vontade insondável e eterna, onde tudo está contido e que embora sendo tudo é um, mas desejoso de revelar-se e de entrar num estado de ser espiritual. Isso ocorre através do fogo no desejo do amor, ou seja, no poder da luz". (Mysterium, VI 1).
"Não temos porque falar que Deus é três pessoas, nesse ponto, mas Ele é ternário em sua evolução eterna. Ele dá nascimento a Si mesmo na trindade; nesse desdobramento eterno continua sendo um ser, nem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo, mas unicamente a vida eterna ou Deus. A vontade ternária torna-se compreensível em Sua eterna revelação, só quando Ele revela a Si mesmo por meio da natureza eterna - ou seja, na luz através do fogo". (Mysterium, VII 9 - 12).
"Sobre a eternidade não podemos falar de outra forma senão como de um espírito, pois tudo era espírito no princípio; mas esse espírito também tem se envolvido num ser, desde toda a eternidade". (Menschwerdung I 2).
"Aquilo que é tranqüilo e sem ser, repousa em si mesmo, não contém as trevas, mas é uma felicidade lúcida, clara e calma. Isso é, pois a eternidade, sem nada mais, e significa acima de tudo Deus. Mas como Deus não pode existir sem um ser, Ele concebe em Si mesmo uma vontade, e essa vontade é amor". (Threefold Life, II 75).
"A totalidade do Ser divino está num estado de contínua e eterna geração, comparável à mente de um homem, mas imutável. Os pensamentos nascem continuamente da mente de um homem, e deles surgem o desejo e a vontade. Do desejo e da vontade surge a ação, e as mãos realizam suas obras, de modo a se tornar substancial. Desta forma, a ação está com a evolução eterna". (Three Principles, IX 35).
"No princípio, a vontade é fraca como um nada; depois, ela deseja e aspira a ser algo e a manifestar-se. Esse nada faz com que a vontade entre num estado de desejo; esse desejo é uma imaginação. A vontade observando-se no espelho da sabedoria faz com que sua própria imagem apareça no não fundamento, criando o fundamento em sua própria imaginação". (Menschwerdung, II 1).
"A Sabedoria, a virgem eterna, a companheira de Deus para Sua honra e alegria, torna-se cheia de desejo de observar as maravilhas de Deus, contidas em si mesma. Devido a esse desejo, as essências divinas dentro dela tornam-se ativas e atraem o santo poder; é assim que a sabedoria entra num estado de ser permanente; sua inclinação repousa no Espírito Santo. Ela simplesmente movimenta-se diante de Deus com a finalidade de revelar as maravilhas de Deus".8 (Three Principles, XIV. 87).
"A corporalidade de Deus resulta de Sua essencialidade. Essa essencialidade não é espírito, mas é como se fosse uma impotência, se comparada com o poder onde o Três reside. Essa essencialidade é o elemento de Deus, onde está a vida, mas não a inteligência". (Threefold Life, V . 53).
"O Um não tem nada em si que poderia desejar; tal unidade tampouco poderia sentir o seu próprio ser. Isso só é possível num estado de dualidade". (Theosophical Questions, III. 3).
"Se tudo fosse apenas um, esse um não poderia manifestar-se. Se não houvesse angústia, a alegria não poderia ser conhecida". (Mysterium, IV. 22).
"Deus introduz Sua vontade na natureza, a fim de revelar Seu poder na luz e na majestade, para constituir um reino de alegria. Se não houvesse uma natureza originando-se na unidade eterna, não haveria nada mais do que a tranqüilidade eterna. A natureza entra num estado de dor, a tranqüilidade transforma-se em movimento, e os poderes tornam-se audíveis como as palavras". (Grace, II . 16).
"A vida-luz tem seu impulso e movimento próprio, assim como o fogo-vida; mas esse gera a primeira, que é o senhor da segunda. Se não houvesse fogo, não haveria nem luz, nem espírito; e se não houvesse espírito para soprar sobre o fogo, esse seria extinto e as trevas governariam. Nenhum dos dois seria nada sem o outro; ambos são dependentes um do outro". (Forty Questions, I. 62).
"A vontade é como uma vida insensível, mas encontra o desejo, e querendo o desejo se constitui num ser. A vontade é superior ao desejo, pois embora o desejo seja uma causa excitante para a vontade, a vontade é uma vida sem uma causa e é também inteligência. É, portanto, senhor do desejo. Ela rege a vida do desejo e o usa como convém. Essa vontade-espírito eterna, sabemos ser Deus, mas a vida ativa do desejo é a natureza eterna". (Inner Mystery, i I, III 2).
"Deus é desde a eternidade Poder e Luz, e é chamado Deus por causa disso, mas não de acordo com o espírito-ígneo. Quanto a esse, não falamos dele como Deus, mas como 'a cólera de Deus' e a parte de Seu poder que consome. A luz de Deus também possui a qualidade do fogo, mas em nela a cólera é transformada em amor; ódio e amargor doem numa humilde beneficência e doce desejo ou satisfação". (Menschwerdung, i 5-16).
"A fonte do amor é uma detentora e mantenedora da corrente colérica, um superar do poder áspero, pois a brandura afasta o comando do poder duro e pungente do fogo. A luz da paz mantém as trevas aprisionadas e reside nas trevas. O poder rigoroso deseja unicamente o colérico e o aprisionamento na morte; mas a brandura emerge como um doce crescimento, ela desabrocha e supera a morte, dando a vida eterna". (Threefold Life, II 92).
"Quando o amor revela-se na luz através do fogo, corre pela natureza e a penetra, como o brilho do sol penetra uma erva ou o fogo penetra o ferro". (Clavis, VIII 36).
"A Essência eterna, desejando revelar-se a si mesma (para obter auto consciência), teve que conceber em si uma vontade; mas como em si mesma não havia objeto para sua vontade ou desejo, exceto o Verbo poderoso, que na eternidade tranqüila não existia, os sete estados da natureza eterna tiveram que nascer ali. Daí procede então, de eternidade em eternidade, o Verbo poderoso, o poder, o coração e a vida da eternidade tranqüila e de sua sabedoria eterna". (Threefold Life, iii 21).
"A primeira e a sétima qualidade devem ser consideradas como uma, assim como a segunda e a sexta, e também a terceira e a quinta; mas a quarta é objeto de divisão. A primeira refere-se ao Pai, a segunda ao Filho e a terceira ao Espírito Santo". (Clavis, IX 75).
"Não imaginem esses sete espíritos como as estrelas, vistas uma ao lado da outra no céu; todos são como que um espírito. Da mesma forma, o corpo do homem possui vários órgãos, mas cada órgão participa do poder dos outros". (Aurora, X.40).
"Sabe-se que um único espírito não pode gerar outro, mas o nascimento de um espírito resulta da cooperação de todos os sete. Seis deles sempre geram o sétimo, e se algum deles estivesse ausente os outros não poderiam estar presente". (Aurora, X.21).
"Todos os sete espíritos de Deus nascem um nos outros. Um dá origem ao outro; não há primeiro ou último. O último gera o primeiro, assim como o primeiro gera o segundo, o terceiro gera o quarto, até o último. Todos os sete são igualmente eternos". (Aurora, X.2).
"Se às vezes descrevo somente dois ou três como ativos na geração de outro espírito, é devido à minha fraqueza, pois em minha mente degenerada não posso reter a impressão da ação de todos os sete em sua perfeição. Vejo os sete, mas quando começo a analisar o que vejo, não posso alcançar os sete, mas um de cada vez". (Aurora, X 22).
"Cada um desses princípios é fortemente definido com relação à sua natureza; mo entanto, não há antipatia entre eles. Todos se regozijam em Deus, como um só espírito. Cada um ama o outro, e não há nada entre eles senão alegria e felicidade. A evolução desses princípios é um eterno um, e não qualquer outro". (Aurora, X. 51).
"Quanto mais alto forem exaltados, e quanto mais inflamados, maior será a alegria deles no reino da luz". (Mysterium, V.6).
"Cada qualidade do espírito deseja a outra, e quando ela adquire esse objeto, torna-se como se tivesse sido transformada na outra; mas sua própria qualidade não se perde, simplesmente se adapta à outra, e manifesta um outro tipo de angústia (consciência), mas ambas mantém suas próprias qualidades especiais". (Threefold Life, IV. 8).
"Quando o quarto princípio penetra o primeiro, todos os espíritos misturam sua luz, triunfo e regozijo. Eles surgem uns nos outros, e envolvem cada um como num movimento circular; a luz no meio deles começa a brilhar, oferecendo-lhes a luminosidade. A qualidade áspera permanece oculta, como uma semente na fruta. Assim como uma maçã amarga ou azeda transforma-se, ao amadurecer sob o sol, adquirindo um sabor adocicado, ainda que mantenha as características que a constitui uma maçã, a Divindade retém suas próprias qualidades essenciais, mas elas se tornam manifestas de forma doce e agradável". (Aurora, XIII 80).
"Todos os sete princípios são espirituais dentro da natureza eterna, e aparecem ali numa substancialidade transluzida, cristalina e clara". (Grace, III 40).
"Os sete candelabros na Revelação de São João referem-se aos sete espíritos na Divindade, também as sete estrelas. Os sete espíritos estão no centro do pai, o seja, no poder do Verbo. O Verbo transforma a cólera em doce satisfação e lhe confere a forma de um oceano cristalino; ali os sete espíritos aparecem numa forma que queima, como sete tochas luminosas". (Threefold Life, III 46).
"A primeira qualidade é o desejo. Ela pode ser comparada com a atração magnética, é a compreensibilidade da vontade. A vontade se concebe como algo. Por esse ato de impressão ou contração ela encobre a si mesma e se torna treva". (Clavis, VIII. 38).
"Nesse estado não há vida ativa ou inteligência; trata-se meramente do primeiro princípio da substancialidade, ou o primeiro começo do transformar-se". (Three Principles, VII . II).
"O desejo é uma qualidade (contrativa) atraente, adstringente e ácida. É um poder ativo, e sem ele nada haveria senão tranqüilidade. Ele se contrai e se preenche de si mesmo; mas aquilo que é atraído constitui nada mais do que trevas, um estado que é mais compacto que a vontade original, sendo essa tênue como um nada, depois se torna plena e substancial". (Threefold Life, II. 12).
"O movimento divide e atrai o desejo, causando a diferenciação, o que acaba despertando a verdadeira vida". (Clavis, VIII.30).
"Disso resulta a sensibilidade na natureza, e aqui está a causa da diferenciação. A dureza (solidez) e o movimento da vida são opostos. O movimento rompe a solidez (expande) e através da atração, também causa dureza (contrai)". (Tabuloe Princip., I.34).
"O Desejo, sendo uma forte atração, causa a liberdade etérea , que é comparável a um nada, para contrair e entrar num estado de trevas. A vontade primitiva deseja ser livre das trevas, pois deseja a luz. A vontade não pode reter essa luz, e quanto mais ela deseja a liberdade maior será a atração causada pelo desejo". (Six Theosophical Points, i 38).
"Deve haver uma oposição, pois a vontade não deseja ser trevas, e este mesmo desejo causa as trevas. A vontade ama o excitamento causado pelo desejo, mas não ama a contração e o obscurecimento. A vontade propriamente dita não se torna obscura, apenas o desejo que nela existe. O desejo está nas trevas, e, portanto uma grande angústia resulta dentro da vontade, na medida em que o desejo pela liberdade se fortalece, mas por esse desejo torna-se mais áspera e obscura". (Forty Questions).
"A terceira qualidade, a angústia, é desenvolvida da seguinte maneira: a adstringência é fixa, o movimento é volátil; uma qualidade é centrípeta, outra centrifuga; mas como são um, e não podem se separar uma da outra (nem do seu centro) tornam-se como uma roda giratória, onde uma força para cima e a outra força para baixo. A solidez fornece substancialidade e peso, enquanto o "amargor" (desejo em movimento) fornece espírito (vontade de liberdade) e vida volátil. Tudo isso causa uma circulação dentro e para fora, sem no entanto, ter um destino. Aquilo que a atração do desejo faz com que se torne fixo, torna-se novamente volátil através da aspiração por liberdade. Ocorre então a grande inquietude, comparável a uma loucura furiosa, de onde surge uma terrível angústia". (Mysterium, III. 15).
"Quanto mais o primeiro princípio acumular sua aspereza, a fim de capturar o segundo princípio, maior a ação desse princípio, e mais forte é a fúria e a ruptura. O amargor recusa-se a ser 40 subjugado, mas a vontade (de onde se origina) o aprisiona fortemente, impedindo-o de seguir seu impulso. Ele luta para subir, a vontade para descer, pois a adstringência puxa para dentro, e se torna pesada. Assim, um luta para surgir, no alto, o outro para mergulhar, em baixo, sendo que nenhum dos dois atinge seu objetivo; com isso a natureza eterna torna-se como uma roda giratória". (Menschwerdung, II. 4).
"Os três primeiros princípios não são Deus propriamente dito, apenas a Sua revelação. O primeiro destes três estados, sendo um princípio de toda força e poder, origina-se da qualidade do Pai; o segundo, sendo a fonte de toda atividade e diferenciação, surge da qualidade do Filho; e o terceiro, sendo a raiz de toda vida, origina-se na qualidade do Espírito Santo". (Grace, VI. 9).
"Os antigos diziam que no sal, súlfur e mercúrio todas as coisas estão contidas. Isso não se refere tanto às coisas materiais, mas ao aspecto espiritual de todas as coisas, ou seja, ao espírito das qualidades de onde surgem as coisas materiais. Pelo termo "sal", compreendiam o desejo metálico e agudo na natureza; "mercúrio" simbolizava o movimento e diferenciação do primeiro, através do qual cada coisa torna-se objetiva e entra em formação. "Súlfur", a terceira qualidade, significava a angústia da natureza". (Clavis, 46).
"O fogo é originalmente, trevas, aspereza, frio eterno e secura, e não há nada nele, senão uma fome eterna. Como então se transforma em fogo? O Espírito de Deus, em seu aspecto de luz eterna, vem em auxílio da fome-ígnea. A fome origina-se da luz, porque quando o poder divino espelha-se nas trevas, essas se tornam cheias de desejo da luz, e esse desejo é a vontade (da natureza eterna). Mas a vontade ou o desejo na secura, não podem atingir a luz, consistindo então de angústia e súplica pela luz. Essa angústia e essa súplica persistem até que o Espírito de Deus entre como que um raio de luz". (Three Principles, XI.45).
"A liberdade por meio da vontade eterna alcança as trevas, essa alcança a luz da liberdade, mas não pode retê-la. A vontade aprisiona-se pelo próprio desejo que há em si, tornando-se trevas. Dessas duas coisas, ou seja, da impressão de trevas e do desejo da luz ou liberdade, que é direcionado para as trevas, resulta o raio de luz nas trevas, a condição primitiva do fogo. Mas como a liberdade é um nada, e portanto inapreensível, não pode reter a impressão. Assim, a impressão 41 entrega-se à liberdade; essa, por sua vez, devora a natureza obscura da impressão. Assim, a liberdade governa nas trevas, e não é compreendida por ela". (Signature, XIV. 22).
"A unidade eterna ou liberdade, per se, é de infinito amor e brandura, mas as três qualidades são ásperas, dolorosas e até mesmo terríveis. A vontade das três qualidades anseia pela unidade branda, e a unidade anseia pelo fundamento ígneo e pela sensibilidade. Assim, um penetra o outro, e quando isso ocorre o raio de luz aparece, comparável à chispa produzida pela fricção entre a pedra e o aço. É desta forma que a unidade retém a sensibilidade, e a vontade da natureza recebe a unidade suave. Assim a unidade torna-se uma fonte de fogo, e o fogo penetrado pelo desejo, uma fonte de amor". (Clavis, IX. 49).
"Quando o fogo e a luz espirituais são acesos nas trevas (tendo, contudo, queimado desde a eternidade), o grande mistério do poder e do conhecimento divino revela-se eternamente ali, porque no fogo todas as qualidades da natureza aparecem exaltadas na espiritualidade. A natureza permanece o que é, mas a sua expressão, ou seja, aquilo que ela produz, torna-se espiritualizado. A vontade obscura é consumida no fogo, expressando com isso o puro espírito-fogo, penetrado pelo espírito-luz". (Clavis, IX. 64).
"Observe como toda vida, no mundo externo, atrai para si o seu alimento. Irás reconhecer como a vida origina-se da morte. Não pode haver vida sem que aquilo de onde a vida se expressa, surja em suas formas. Todas as coisas tem que entrar num estado de angústia para reter o raio de luz, e sem isso não haverá ignição". (Menschwerdung, II. 5).
"Se algo se torna àquilo que não era antes, isso não se constitui um princípio; um princípio está onde uma forma de vida e movimento começa, o qual não existia anteriormente. Desta forma, o fogo é um princípio, assim como a luz que nasce do fogo, mas que, contudo, não é uma qualidade do fogo, mas tem uma vida própria." (Six Theosophical Points, II. I).
"Se a Divindade de acordo com o primeiro e segundo princípio é considerada apenas como um espírito, sem qualquer essencialidade concebível, há nela, contudo, o desejo de envolver um terceiro princípio, onde repousa o espírito dos dois primeiros princípios, onde se tornará manifestada como uma imagem". (Six Theosophical Points, I. 25).
"O fogo recebendo em si a essência do desejo como seu alimento, a fim de poder queimar, fornece um espírito alegre e abre o poder da humilde essencialidade na luz". (Six Theosophical Points, I.57).
"O fogo, atraindo para si a humilde essencialidade da luz, emana, através da cólera da morte, o humilde espírito que ali estava, o qual contém em si as qualidades da natureza". (Tilk., I. 171).
"Os primeiros três princípios são meramente qualidades condutoras da vida; o Quarto é vida propriamente dita, mas o quinto é o verdadeiro Espírito. Toda vez que esse poder se envolve do fogo, vive em todos os outros e transformando-os em sua própria natureza doce, de modo que a dor e a inimizade não podem ser encontradas ali, de forma alguma". (Tabuloe Principoe, I. 46).
"A Quinta Qualidade é o verdadeiro fogo-amor, que na Luz separa-se do fogo doloroso, e onde o amor divino aparece como um ser substancial. Ele tem consigo todos os poderes da sabedoria divina; é o tronco ou o centro da árvore da vida eterna, onde Deus, o Pai, revela-se em Seu Filho através do Verbo pronunciado". (Grace, III. 26).
"A Sexta forma da natureza eterna é a vida inteligente ou som. As qualidades estando num estado de equilíbrio na luz (a Quinta), agora se regozijam e tornam-se audíveis. Com isso, o desejo da unidade entra num estado de (consciência) querendo e atuando, percebendo e sentindo". (Tabuloe Principoe, I. 48).
"Para constituir a vida audível, ou o som dos poderes, é necessário solidez e brandura, o compacidade, delgadeza e movimento. Para constituir o sexto princípio, portanto, se faz necessária a presença de todas as outras qualidades da natureza. A primeira forma fornece a aspereza, a segunda o movimento, através do qual a terceira divisão ocorre. O fogo transforma a aspereza da essência concebida ao consumi-la num ser espiritual, representando delicadeza e suavidade, e esta se forma num som, de acordo com as qualidades que contém". (Mysterium, V. II).
"O Sétimo Princípio é a compreensão corpórea das outras qualidades. É chamado de "Sabedoria Essencial" ou "O Corpo de Deus". O terceiro princípio aparece nas sete formas da natureza desde que eles tenham sido trazidos para a compreensibilidade no sétimo. Esse princípio ou estado de ser é santo, puro e bom, É chamado de eterno céu incriado ou de reino de Deus, e emerge do primeiro princípio, do obscuro mundo-fogo e do santo mundo-amor de luz flamejante". (Grace, IV. 10).
"A Sétima forma é o estado de ser onde todas as outras manifestam sua atividade, como a alma no corpo. É chamada de Natureza, e também de eterna e essencial sabedoria de Deus". (Tabuloe Principoe, I.49).
"O sétimo espírito de Deus é o corpo, que nasce dos outros seis espíritos, e nele todas as figuras celestiais tomam forma. Dele surge toda beleza, toda satisfação. Se esse espírito não existisse Deus seria imperceptível". (Aurora, XI. I).
"A Sabedoria é a substancialidade do espírito. O espírito dela se reveste, como um ornamento, e assim se revela. Sem a sabedoria a forma do espírito não seria conhecida; ela é a corporalidade do espírito. Não se trata de um corpo de substância tangível, como os corpos dos homens, mas contém qualidades visíveis e substanciais que o espírito per se não possui". (Threefold Life, V. 50).
"A linguagem terrestre é inteiramente insuficiente para descrever o que há de satisfação, felicidade e de amor contidos nas maravilhas internas de Deus. Mesmo se a Virgem Eterna as mostrassem em nossas mentes, a constituição do homem é muito fria e escura para ser capaz de expressar mesmo uma centelha sobre elas em sua linguagem". (Three Principles, XIX. 90).
"Assim como a terra continua a produzir plantas, flores, árvores, metais e seres de várias espécies, um mais glorioso, forte e belo que o outro; e como no nosso plano terrestre uma forma aparece enquanto outras perecem, havendo um contínuo trabalho e envolvimento das formas, do mesmo modo a geração eterna com o santo mistério, continua ocorrendo com grande poder; em conseqüência dessa contorção de poderes espirituais, os frutos divinos aparecem um ao lado do outro, todos e cada um deles, numa radiação de belas cores. Tudo aquilo pelo qual estamos rodeados no mundo terrestre, não passa de um símbolo terrestre, que existe no reino celestial numa bela perfeição, num estado espiritual. Não existem ali meramente como um espírito, uma vontade ou um pensamento, mas numa substancialidade corporal, em essência e poder, e aparece inconcebível se comparado com o mundo material externo" (Signature, XVI. 18).
"Não é a sabedoria, mas o Espírito de Deus, o centro ou o revelador. Como a alma está manifestando-se num corpo através da carne, e como a carne não teria poder algum se não fosse habitada por um espírito vivo, da mesma forma a sabedoria de Deus é a corporalidade do Espírito 44 Santo, através da qual ele adquire substancialidade, a fim de manifestar-Se. A sabedoria dá à luz, mas isso não seria possível se o Espírito não atuasse nela. Ela revela sem o poder da vida-fogo, ela não possui desejo ardente, mas sua satisfação encontra sua perfeição na manifestação da Divindade, e, portanto é chamada de virgem em castidade e pureza diante de Deus". (Tilk., II 64).
"A luz e o poder do sol revelam os mistérios do mundo externo através da produção e crescimento de vários seres. Da mesma forma Deus, representando o Sol eterno ou o único e eterno Bem, não se revelaria sem a presença de sua natureza espiritual eterna, único lugar em que pode manifestar seu poder. Somente quando o poder de Deus se torna diferenciado e relativamente consciente, de modo que haja poderes individuais combatendo entre si durante seu jogo de amor, se abrirá Nele o grande, imensurável fogo de amor, através da aproximação da Santíssima Trindade". (Grace, II.28).
"A vontade eterna, o Pai, conduz Seu coração, Seu Filho eterno, pelo fogo, ao grande triunfo, ao Seu reino de glória". (Grace, II. 21).
"Quando o Pai pronuncia Seu Verbo - ou seja, quando Ele gera Seu Filho - o que é feito contínua e eternamente, esse Verbo tem sua origem, em primeiro lugar, na primeira qualidade adstringente, onde se torna concebido. Na segunda qualidade ou qualidade doce recebe sua atividade; na terceira, se movimenta; no calor ele surge e acende o doce fluxo do poder e do fogo. Todas as qualidades são feitas para queimar pelo fogo aceso, e o fogo é por elas alimentado; mas esse fogo é só um, não muitos. Esse fogo é o verdadeiro Filho de Deus, que continua nascendo de eternidade em eternidade". (Aurora, VIII. 8 I.).
"O Pai é o primeiro de todos os seres concebíeis, mas se o segundo princípio não se tornasse manifesto no nascimento do Filho, Ele não seria revelado. Assim, o Filho, sendo o coração, a luz, o amor e a bela e doce beneficência do Pai, mas sendo distinto Dele em Seu aspecto individual, entrega-se ao Pai reconciliado, amoroso e misericordioso. Seu nascimento ocorre no fogo, mas Ele obtém sua personalidade e nome pela ignição da luz clara, branca e suave, que Ele próprio é". (Three Principles, IV. 58).
"O Filho nasce perpetuamente, de eternidade em eternidade, e brilha continuamente nos poderes do Pai, enquanto que esses poderes são continuamente gerados no Filho". (Aurora, VII. 33).
"O Pai Eterno manifesta-se no fogo; o Filho manifesta-se na luz do fogo; o Espírito Santo manifesta-se no poder da vida e no movimento que emana do fogo e da luz". (Signature, XIV 34).
"O Espírito Santo revela a divindade na natureza. Ele estende o esplendor da majestade, a fim de que ele possa ser reconhecido nas maravilhas da natureza. Ele não é o esplendor 45 propriamente dito, mas seu poder; ele introduz esse esplendor da majestade na substancialidade, onde a Divindade é revelada". (Threefold Life, IV. 82; V. 39).
"Nós, Cristãos, dizemos que Deus é ternário, mas um em essência; isso é mal interpretado pelo ignorante ou pelo mal informado, pois Deus não é uma pessoa, exceto em Cristo. Deus é um poder gerado eternamente e o reino com todos os seres". (Myst. Magn., VII. 5).
"Ele gera a si mesmo num aspecto ternário, e nessa geração eterna deve-se compreender uma única essência e geração; nem o Pai, nem o Filho; mas unicamente a Vida eterna, ou Deus". (Myst. Magn., VII . II).
"Deus criou os santos anjos, não através de alguma substância estranha a seu próprio ser; Ele os criou de seu próprio ser, de Seu poder e sabedoria eterna". (Aurora, IV. 26).
"Sempre haverá que se fazer uma distinção entre a Divindade e a humanidade, entre a vontade humana e a vontade de Deus". (Stief, II. 95).
"Se um homem diz a si mesmo: 'Eu, o verbo vivo de Deus, realizo isso e aquilo, nessa santa carne e osso', ele desonra o sagrado nome de Deus; Isso também vai contra a doutrina da Bíblia; pois, sempre que o intelecto de um homem foi escolhido para a profecia, o profeta não dizia: 'Eu, Fulano de Tal, digo isso ou aquilo, mas 'Assim fala o Senhor!'. Isso significa que o Senhor fala nesse homem e através desse homem, que é Seu intermediário e Seu instrumento". (Stief., I.84).
"Não imagine Deus como sendo um poder cego, existindo ou movimentando-se no céu ou além e acima do céu, desprovido de razão ou conhecimento, comparável ao sol, que gira em torno de sua órbita, emitindo luz e calor, sem se importar se isso beneficia ou não a terra e suas criaturas. Não! O Pai não é isso; mas Ele é onipotente, sábio, o Deus que tudo sabe; Nele mesmo, Ele é bom, generoso e misericordioso, alegre e regozija-se em si mesmo". (Aurora, III. II).
"Se o leitor considerar a profundeza do céu, as estrelas, os elementos e a terra, não irá, com certeza, ver com seus próprios olhos, a Divindade pura e cristalina, embora Deus esteja ali, dentro de tudo isso; mas se você elevar seus pensamentos e direcionar sua mente a Deus, que em Sua santidade governa com o Todo, estará então penetrando o céu e alcançando o próprio coração sagrado de Deus". (Aurora, XXIII. II).
"Não podemos dizer, verdadeiramente, que este mundo foi feito a partir de algo". (Signature, XIV. 7).
"Não podemos supor racionalmente qualquer formação ou diferenciação existente no eterno UM da qual, ou de acordo com a qual (formação) algo poderia ser feito; pois se tal forma ou predisposição de fazer uma forma existisse, haveria de ter outra causa, além de Deus, de onde a forma resultaria, então haveria algo mais (outro deus) e não o Um e eterno Deus". (Baptism, I.I).
"A criação nada mais é do que a revelação do Deus insondável e essencial, e tudo o que existe em sua própria evolução eterna, que não tem princípio, também está nessa criação. Mas a criação está para Deus, assim como uma maçã está para a árvore. A maçã não é a árvore, mas cresce pelo poder da árvore. Do mesmo modo tudo tem sua origem no desejo divino; o desejo é o que o faz entrar num ser. No princípio não havia nada para produzir o todo, exceto o mistério da geração eterna (evolução)". (Signature, XVI.I).
"Imagine uma mãe (um ventre) contendo uma semente em si. Enquanto ela contém a semente como tal, esta pertence a ela, mas quando a semente torna-se uma criança então a semente não pertence à ela, mas é propriedade da criança. O mesmo ocorre com os anjos. Todos foram configurados a partir da semente divina; mas depois que isso foi feito, cada um possui seu próprio ser corpóreo". (Aurora, IV. 34).
"A razão pela qual o Deus imutável criou o mundo é um mistério insondável; só se pode dizer que Ele o fez em seu amor". (Hamberger).
"Como é que Deus movimentou-se para produzir a criação, sendo Ele imutável, não se sabe, e qualquer tentativa de descobrir, só produziria confusão na mente". (Menschwerdung, I.2,5).
"Não podemos dizer como é que aquilo que estava eternamente na essencialidade de Deus entrou em movimento, pois não havia nada que pudesse ter feito Deus se movimentar, e a vontade de Deus é eterna e imutável. Só podemos dizer que o Três estava desejoso de ter filhos de sua própria espécie". (Forty Questions I. 273).
"Com a luz e o coração de Deus, como tais, nada pode ser criado; porque, a luz é o fim da natureza e não possui qualidade. Portanto, ela não pode mudar ou tornar-se algo, mas permanece sempre a mesma na eternidade". (Three Principles, X 41).
"O Deus Trino e eterno criou todas as coisas através do Verbo, de Seu próprio Ser, ou seja, de Seus dois aspectos ou qualidades: a natureza eterna, a fúria ou cólera, e de Seu amor, através do qual, a cólera ou 'natureza' era pacificada. Assim, Ele tudo criou, fazendo com que tudo adquirisse uma existência". (Stief. II. 33).
"O Pai, sendo a vontade primordial, pronuncia todas as coisas através do Verbo, do centro da liberdade; mas a emissão do Pai através do Verbo é o espírito do poder, e esse espírito dá forma àquilo que foi falado, a fim de que apareça como um espírito". (Threefold Life II. 63).
"A sabedoria é uma imaginação divina, onde as idéias dos anjos e almas foram vistas na eternidade; não como criaturas reais e substanciais, mas não essencial como as imagens num espelho". (Clavis, X.5).
"A semelhança de Deus, tendo sido vista na sabedoria de Deus desde toda eternidade, e na qual Deus criou o Homem, era sem vida e sem substancialidade antes do princípio dos tempos deste mundo. Era um mero reflexo da imagem onde Deus viu como Ele seria numa imagem". (Stief, II. 123).
"O Homem não existe desde a eternidade; mas apenas como uma sombra de uma imagem, onde Deus em Sua sabedoria soube de todas as coisas desde a eternidade, no espelho de Sua própria sabedoria". (Stief, II 143).
"As espécies e criaturas são tão variadas quanto os pensamentos eternos na sabedoria de Deus". (Three Principles IX.37).
"Como os poderes divinos são múltiplos, inumeráveis, há uma diferenciação de idéias e uma diferença entre os anjos; em conseqüência disso alguns aparecem como reis ou governantes e outros como servos". (Theosophic Questions V. 9-12).
"Como não há nada perfeito exceto a Árvore divina, conseqüentemente todas as coisas diferem uma das outras; do mesmo modo, os anjos possuem diferentes qualidades". (Threefold Life V.90).
"A cólera (o fogo) é a raiz de todas as coisas e a origem de toda vida; nela está a causa de toda força e poder, e dela emanam todas as maravilhas (manifestação de poder). Sem aquele fogo não haveria consciência, mas tudo seria um mero nada". (Three Principles XXI. 14).
"Nenhum ser pode nascer a menos que tenha em si o triângulo ígneo, ou seja, as três primeiras formas naturais". (Grace, II. 38).
"Tudo existe desde toda eternidade, mas apenas como idéias, não como coisas existentes corporalmente. Somente espíritos incorpóreos existiam (como idéias) na eternidade, como num mundo de magia, onde uma coisa contém a outra na potencialidade". (Forty Questions XIX.7).
"A criação dos anjos tem um princípio, mas não aquele dos poderes, de onde foram criados. Esses poderes são co-eternos com o princípio eterno". (Mysterium, VIII. I).
"Na eternidade, na Vontade eterna, havia uma natureza, mas ela existia ali apenas como um espírito, e sua essencialidade não estava manifesta exceto no espelho daquela Vontade, ou seja, na sabedoria eterna". (Signature, XIV. 8).
"O mysterium magnum é o Caos de onde se origina o bem e a mal, luz e trevas, vida e morte. É o fundamento ou ventre de onde emanam almas, anjos e todos os tipos os outros tipos de 50 seres, e onde estão contidos como numa causa comum, comparável à uma imagem que está contida num pedaço de madeira antes que o artista a corte". (Clavis, VI 23).
"O mundo criado existia antes do mysterium magnum, pois todas as coisas encontravam-se numa condição espiritual na sabedoria, como numa contínua atividade ou luta de amor. A Vontade única concebeu essa forma espiritual no Verbo, e permitiu a inteligência (a consciência separada, ou seja, a qualidade azeda e adstringente), agir sem restrição, a fim de que cada poder pudesse entrar ou se construir numa forma de acordo a essa própria qualidade específica". (Grace, IV. 12).
"A Mente eterna está sempre desejosa de poder, e o poder é a adstringência, e a adstringência é a contração, atração, ou o Fiat eterno, que cria e torna corporal aquilo que a Vontade eterna deseja em sua própria benevolência. A Vontade deseja através do Fiat agudo, trazer para a substancialidade (tornar objetivo) aquilo que mantém na Sabedoria eterna". (Three Principles XIV.74).
"O universo com todos os seus seres foi criado da natureza eterna, dos sete espíritos da natureza eterna". (Threefold Life III.40).
"Sempre que algo nasce da Essência divina, é trazido para a forma, não meramente por um espírito, mas por todos os setes". (Aurora, X.4).
"Quando a Divindade movimentou-se, com o propósito de criar um mundo, movimentou suavemente a qualidade adstringente, contraindo-a no divino sal-nitre". (Aurora, XIII. 94).
"O centro de cada coisa é espírito, coexistindo com o Verbo. A separação (diferenciação) de algo (através da qual esse algo se distingue do resto) está na qualidade de sua vontade, através da qual assume uma forma ou estado de ser de acordo com seu próprio desejo essencial (predominante)". (Cartas, XLVII. 5).
"Ainda hoje, o ato de criação continua, e não terá fim até a chegada do Julgamento de Deus. Então, aquilo que cresceu na santa árvore da vida irá separar-se das ervas e espinhos". (Three Principles XXIII.25).
"Se Deus irá ou não criar algo mais de Sua vontade, após o fim desses tempos, não é perceptível pelo meu espírito, pois ele não vai além do próprio centro onde habita, e ali é o paraíso e o reino do céu". (Principles, IX. 41).
"Deus, constituindo a Si mesmo um ser criado, assumiu o aspecto de um ser com relação à sua trindade; e como essa trindade é o mais elevado e grandioso em Deus, Ele também criou três princípios de anjos (reflexos divinos de Sua própria imagem), superiores a todos os outros". (Aurora, XII 88). 52 "Michael representa Deus o Pai. Ele não era Deus, o Pai propriamente dito; mas há entre os seres criados (os anjos) um que representa Deus, o Pai. O círculo ou espaço onde ele e seus anjos são criados é o seu reino; ele é um filho amado de Deus, uma alegria para seu Pai. Não o compare com o coração ou a luz de Deus, que está na totalidade do Pai, e o qual não tem começo nem fim, assim como o Pai. Esse príncipe é um ser criado, e como tal tem um princípio; mas ele está em Deus o Pai, e se curva a Ele no amor. Portanto, ele usa sobre sua cabeça a coroa da honra, poder e força, e a não ser o próprio Deus em Sua trindade, não se pode encontrar nada no céu que seja maior, ou mais bonito ou poderoso que ele". (Aurora, XII 86).
"Assim como Michael fora criado segundo o tipo e a beleza de Deus o Pai, Lúcifer fora criado segundo o tipo e a beleza de Deus o Filho, unido à Ele em amor; seu coração repousava no centro da luz, como se fosse o próprio Deus". (Aurora, XII 101).
"O terceiro rei, Uriel, é formado segundo o tipo e o caráter do Espírito Santo. Ele é um magnífico e belo príncipe de Deus, também unido em amor com os outros príncipes, como num só coração". (Aurora, XII III).
"Há sete qualidades principais no Poder divino, de onde o centro de Deus nasce; da mesma forma há alguns poderosos príncipes angélicos criados, cada um, de acordo com sua qualidade principal, sendo um regente no exército ao qual pertence. Cada um deles está ao lado de seu rei ou arcanjo, o comandante de outros anjos subordinados". (Aurora, XII 7).
"Deus também chamou à existência outros príncipes dos anjos, correspondendo a sete espíritos, tais como Gabriel, Rafael, etc." (Aurora, XII 88).
"Os anjos possuem entre si uma única vontade-amor. Nenhum deles inveja o outro por causa de sua beleza, se reconhecem ente si como os espíritos de Deus. Eles amam uns aos outros, e nenhum deles sequer imagina superar o outro em beleza; cada um se regozija na beleza e na graça do resto". (Aurora, XII 17). 53 "Quando os espíritos de Deus surgem em sua glória divina, não podem estar amarrados de forma a evitar que se misturem uns com os outros, e os anjos não se limitam pela localidade em que residem. Os espíritos de Deus surgem perpetuamente uns dentro dos outros, e em sua geração eterna, desfrutam de uma contínua troca de amor. Assim, os santos anjos movimentam-se uns nos outros e vão juntos em todos os três reinos, de onde cada um recebe de outro, beleza de forma, graça e virtude, felicidade suprema; mas cada um mantém a posição que lhe pertence (seu centro de gravidade) que em seu aspecto, como um ser criado, lhe fora transmitido como sua própria propriedade especial". (Aurora, XII 57).
"Quando Deus criou os anjos, o príncipe do fogo e da luz se manifestou. Seu espírito ou vida-angústia (consciência) tem sua origem no fogo. Ele foi então passado pela luz, tornando-se ali a angústia do amor, através da qual a cólera foi extinta". (Menschwerdung, i 3-10).
"Todos os anjos foram criados no primeiro princípio, formados e corporificados pelo Espírito em movimento e iluminados pela luz de Deus". (Three Principles, IV 67).
"Desde toda eternidade a luz de Deus era clara, doce e graciosa; mas quando Deus movimentou-se para criar, a matrix (o fundamento), com suas qualidades, amarga, ácida, obscura e ígnea, tornou-se manifesta; os anjos foram criados desta matrix para a luz, tornamdo-se corpóreos pelo Espírito em movimento". (Aurora, V 24).
"Cada anjo possui em si o poder dos sete espíritos primitivos". (Aurora, XII 8).
"O corpo dos anjos, ou seja, sua apreensibilidade, origina-se dos sete espíritos, e os espíritos geradores de poder naquele corpo são os sete espíritos". (Aurora, XVI 15).
"Há uma vida superior à vida neste mundo, na eternidade. O espírito deste mundo (a mente terrestre) não pode conceber a sua natureza. Ela contém em si todas as qualidades desta vida terrestre, mas não em essências inflamadas como no último. Verdadeiramente, ela também contém um fogo, e muito poderoso, mas que queima de forma diferente; ele é doce, humilde e sem dor; ele não consome, mas causa majestade e esplendor vivo, seu espírito é puro amor e alegria". (Threefold Life, VIII. I).
"Toda a localidade do mundo, as profundezas da terra e acima da terra, até o céu e o próprio céu criado, que vemos com os nossos olhos, mas que, no entanto, não podemos compreender com nossos sentidos, todo esse espaço é um reino, onde Lúcifer era o governador antes de sua queda; mas os outros dois reinos, o de Miguel e Uriel, existem além do céu criado (espaço) e são iguais ao primeiro reino". (Aurora, VII.7).
"Quando a melodia celeste dos anjos começa a ser ouvida, estará surgindo com o divino salitre, vários mundos de crescimento, figuras e cores magníficas". (Aurora), XII.24).
"Cada país possui seu espírito guardião principal com suas legiões. Do mesmo modo, há anjos governando os quatro elementos - fogo, água, ar e terra". (Mysterium, VIII. 9).
"Saiba que o demônio sempre luta com os anjos. Quando a alma do homem está segura em Deus, então o demônio deseja entrar, mas ele é impedido, não podendo realizar a sua vontade. Sempre que a alma imagina, fazendo com que surjam os desejos luxuriantes, ocorre a vitória do demônio".10 (Threefold Life, XIV.13).
"Cada princípio é atraído pelo conhecimento e sentimentos semelhantes em seu próprio ser. Os princípios existentes na periferia atuam sobre seus princípios correspondentes no centro. Amor atua sobre amor, ódio sobre ódio; o bem é atraído pelo bem e o mal pelo mal. Se não há desejo mal ativo no homem, as influências malignas não podem criar raízes em seu coração
Filosofia,
Jacob Boehme
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