domingo, 21 de agosto de 2011

O individuo na Idade Média


A história da feudalidade não é, senão, a história das principais linhagens familiares. Familia na Idade-Média, entende-se num conceito bem mais amplo que o de costume. Todas as relações na Idade Média se estabelecem sobre a estrutura familiar, e estende essa noção tanto a relação de "senhor-vassalo" quanto as de "mestre-aprendiz", ou um amplo conceito que podemos considerar como "comunidade".

Longe dessa do conhecido legado da Revolução Francesa que destaca o indivíduo da sociedade, na sociedade medieval os barões (antes de tudo, pais de família) levam a cabeça muito mais que um homem, ou um indivíduo, mas o nome e os interesses de uma família.

Os casamentos, por exemplo, não eram escolhas a bem do indivíduo, e sim, escolhas ao bem da família.

A noção de indivíduo é reduzida na Idade Média, coisa que não acontece na idade antiga.
Na sociedade antiga, o homem é a primazia de tudo, na vida pública ele é o civil que vota e faz as leis e toma parte dos negócios do Estado.
Na vida privada ele é pater familias, o propietário de um bem que lhe pertence pessoalmente, o qual é o único responsável e suas atribuições são ilimitadas.
Em parte alguma se vê "familia" ou "linhagem" participando na sua atividade.
A mulher e os filhos estão-lhe inteiramente submetidos e permanecem em relação a ele em estado de menoridade perpétua, e os tem como propriedade ou escravos, além do jus utendi et abutendi, o poder de usar e abusar.
A família parece não existir senão em estado latente, não vive senão pela personalidade do pai, simultâneamente chefe militar e grande sacerdote; isto com todas as consequências morais que dai decorrem, entre as quais é preciso colocar o infanticídio legal.
Na Antiguidade a criança é resto, a grande sacrificada: é um objeto cuja vida depende do juízo ou do capricho parternal; está submetido a todas eventualidades da troca ou da adoção e, quando o direito de vida lhe é acordado, permanece sob a autoridade do pater famílias até à morte deste; mesmo então não adquire de pleno direito a herança paterna, já que o pai pode dispor à vontade dos seus bens por testamento; quando o Estado se ocupa desta criança não é de todo para intervir a favor de um ser frágil, mas para realizar a educação do futuro soldado e do futuro cidadão.

Nada subsiste desta concepção na nossa Idade Média. O que importa então já não é o homem, mas a linhagem. Poderíamos estudar a Antiguidade — e estudamo-la de fato — sob a forma de biografias individuais: a história de Roma é a de Sila, de Pompeu, de Augusto; a conquista dos Gauleses é a história de Júlio César.
E como abordamos a Idade Média ?
Uma mudança de método impõe-se: a história da unidade francesa é a da linhagem capetiana; a conquista da Sicília é a história dos descendentes de uma família normanda, diga-se, demasiado numerosa para o seu património.
Para compreender bem a Idade Média, é preciso vê-la na sua continuidade, no seu conjunto. É talvez por isso que ela é muito menos conhecida e muito mais difícil de estudar que o período antigo, porque é necessário apreendê-la na sua complexidade, segui-la na continuidade do tempo, através dessas cortes que são a sua trama; e não apenas as que deixaram um nome pelo brilho dos seus feitos ou pela importância do seu domínio, mas também as gentes mais humildes, das cidades e dos campos, que é preciso conhecer na sua vida familiar se quisermos dar conta do que foi a sociedade medieval.
A Idade Média traçou alguns traços essenciais a noção de solidariedade familiar saída dos costumes bárbaros, germânicos ou nórdicos.
Temos na mentalidade medieval, cada ser o seu papel com a consciência de fazer parte de um todo.
A união não repousa, como na antiguidade romana, sobre a concepção estatista da autoridade do chefe, mas sobre o fato de ordem biológica e moral, de uma família unida pela carne e pelo sangue, com interesses solidários.

Leitura:
Regine Pernoud - Luz sobre a Idade Média


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Abaixo segue os dados do livro
Título: Luz sobre a Idade Média
Autora: Regine Pernoud
Idioma: Português (de Portugal)
Editora: Europa-America
Preço: R$ 51,70
208 páginas
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