quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Pacto Molotov-Ribbentrop e o cinismo soviético


Se tem uma coisa que o governo soviético soube fazer muito bem era propaganda de si mesmo e sistemática adulteração dos acontecimentos históricos. Astutos como rapozas, parece que não deixavam um único evento de lado sem ver nele a oportunidade de se promover. Até mesmo um ato de pura agressão se transformava, pela máquina de propaganda stalinista, como o mais notável ato de caridade.
Alguns detalhes do pacto Molotov-Ribbentrop foi exemplo disso.
O Pacto Molotov-Ribbentrop foi um acordo de não agressão firmado pouco antes do começo da Segunda Guerra Mundial entre a Alemanha Nazista e a União Soviética.
Depois da Polônia ser vencida pela Alemanha em 1939 de forma trucidante (evento conhecido como Blitzkrieg) dezasseis dias depois a Rússia entrou na história afirmando que atacaria a Polônia, surpreendendo a todos.
A coisa toda fora decidida com antecedência nas cláusulas secretas do pacto nazi-soviético, que revelava a real intenção das duas partes que era partilhar a Polônia e dividir a Europa Oriental em esferas de influência Soviética e Alemã.
Os documentos do texto-resposta russo sobre os ataques alemães e sua entrada na Polônia estão documentados nos Documentos sobre a Política Exterior da Alemanha, arquivos do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
O interessante nessa história é notar como o pacto de não agressão soviético-polonês (ou Tratado de Riga), firmado depois da Guerra Polaco-Soviética foi totalmente revogado sobre o pretexto de que a Polônia simplesmente deixara de existir. A agressão soviética, então, seria justificada moralmente; Eles aproveitariam esse "terrível acidente do destino" para proteger seus próprios interesses, alegando se preocupar com o bem-estar das minorias de ucranianos e russos brancos que corriam risco com a ronda nazista no país recém-ocupado. A URSS chegava ainda, cinicamente, a pronunciar que se manteria em estrita neutralidade no conflito com a Polônia! Conflito que ela e a Alemanha premeditaram com antecedência!
A insistência em fazer esse ato de agressão a um país já derrotado e prostrado num ato "neutro" e até mesmo "solidário" mostra o quanto a URSS tinha muita habilidade em mentir descaradamente Mesmo os pontos mais negativos de sua história transfiguravam-se, nas declarações oficiais, numa aparência reversa, positiva, para o mundo ainda reconhecer neles como grandes representantes dos povos e defensores de pátrias oprimidas.

Segundo o correspondente alemão na época, Schulenburg, Molotov justificava o estratagema russo da seguinte forma:

"(...) o Estado polonês desintegrava-se e não existia mais; em consequência, todos os acordos concluidos com a Polônia ficaram nulos; outras potências talvez tentassem aproveitar-se do caos surgido. O governo soviético considerava-se obrigado a intervir, a fim de proteger seus irmãos ucranianos e russos brancos e possibilitar a esse infeliz povo trabalhar em paz".

Cínicos.

Obviamente Schulenburg fez objeções. Molotov admitiu que os argumentos do governo soviético encerravam uma nota que feria a sensibilidade dos alemães, mas pediu-os, dada a difícil situação do governo soviético naquele momento, que não se ofendessem por "uma coisa assim insignificante".


Conquanto fossem cúmplices da Alemanha Nazista no crime contra a Polônia e, ao mesmo tempo, a URSS sentia necessidade de mostrar ao mundo que eles ainda eram paladinos dos oprimidos e que aquilo era um ato da mais pura bondade e solidariedade com os povos era necessário um comunicado.
Como a Alemanha Nazista e a URSS foram sócias no evento esse comunicado teria que ser, infelizmente para eles, elaborado em conjunto. A versão alemã do documento  foi censurada por Stalin pois "apresentava os fatos co demasiada franqueza". A franqueza, a verdade, se tornaram grandes inimigas do governo soviético.
A obra foi reescrita e é descrita pelo historiador William L. Shirer (autor do livro Ascensão e Queda do Terceiro Reich) como uma "obra-prima de subterfúgios".

Não raro, ainda encontramos propagandistas e promotores das "obras-primas" contadas nas linhas soviéticas.

Gabriel Vince

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