domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sendero Luminoso

Sendero Luminoso

O Sendero Luminoso (espanhol para "sendeiro luminoso" ou "caminho iluminado") é uma organização de inspiração maoísta fundada na década de 1960 pelos corpos discentes e docentes de universidades do Peru (especialmente da província de Ayacucho). É classificada por diversos países, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, como terrorista. Abimael Guzmán (professor de Filosofia da Universidade Nacional de San Cristóbal de Huamanga) é considerado seu fundador por excelência, e adota o codinome Presidente Gonzalo. A guerrilha foi quase considerada extinta no final da década de 1990, mas reapareceu na primeira década do século XXI.

O Sendero Luminoso é considerado o maior movimento terrorista do Peru, e está entre os dois maiores grupos de ação da América do Sul (ao lado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC). O seu nome oficial é Partido Comunista do Peru - Sendero Luminoso (PCP-SL)- dado que existiram diversos partidos denominados Partido Comunista do Peru, e o Sendero Luminoso foi um dentre tantos outros, nascido de uma divisão interna do Partido Comunista do Peru - Bandera Roja. O seu objetivo era o de superar as instituições burguesas peruanas por meio de um regime revolucionário e comunista de base camponesa, utilizando-se do conceito maoísta de Nova Democracia.

O grupo vem sendo criticado pela violência usada contra camponeses, líderes sindicais e políticos eleitos – personagens sociais que eram acusados pelo grupo de colaborar com o Estado peruano. O Sendeiro Luminoso está na lista de organizações terroristas internacionais elaborada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. O Reino Unido, a União Europeia e Peru descrevem o Sendeiro Luminoso como um grupo terrorista e proíbem o patrocínio da organização bem como qualquer outra forma de ajuda financeira.

Desde a captura de seu líder, Abimael Guzmán em 12 de setembro de 1992, o Sendero Luminoso teve apenas atuações esporádicas. A ideologia e as táticas do Sendero Luminoso influenciaram outros grupos insurgentes de caráter maoísta como o Partido Comunista do Nepal e outras organizações relacionadas ao movimento revolucionário internacional.

Após a prisão de Guzmán, vários líderes do Sendero também foram detidos nos anos seguintes, o que diminuiu bastante as atividades do grupo. Estas incluem principalmente ataques com bombas, além de assassinatos e possivelmente envolvimento com o comércio de pasta de coca. Digladiaram-se com os militares peruanos e grupos paramilitares supostamente treinados pelo Estados Unidos, os Sinchis. Além disso, opõe-se a outra grande força revolucionária do Peru, o Movimento Revolucionário Túpac Amaru.

Estima-se que o Sendero Luminoso teve cerca de dois mil guerrilheiros, e um grande número de membros em outras funções. O grupo foi responsável pela morte de aproximadamente 31.000 pessoas, entre civis, camponeses, militares e militantes de esquerda rivais.


Abimael Guzmán

Manuel Rubén Abimael Guzmán Reynoso (Arequipa, 3 de dezembro de 1934), também conhecido por "Presidente Gonzalo", é ex-professor de filosofia na Universidade de Ayacucho e foi o líder do "Sendero Luminoso" durante a insurgência Maoista que caracterizou um conflito interno no Peru.
O Sendeiro Luminoso foi ativo no Peru desde o final dos amos 70 e começou sua luta armada no dia 17 de maio de 1980. Procurado por acusações de terrorismo e alta traição nacional, Guzmán foi capturado pelo governo peruano em 1992 e recebeu sentença perpétua.
Atualmente Abimael encontra-se preso na base naval do Callao, próximo à cidade de Lima, no Peru.

Guzmán nasceu em Mollendo, uma cidade litorânea na província de Islay, na região de Arequipa (aprox. A 1000 km ao sul de Lima). Ele foi um filho ilegítimo de um comerciante ganhador da loteria nacional que teve 3 filhos com 3 mulheres diferentes. A mãe de Abimael, Berenice Reynoso, morreu quando ele tinha apenas cinco anos de idade, o que fez com que ele vivesse com a família materna de 1939 até 1946, quando começou a viver com seu pai e a esposa do mesmo em Arequipa.
Foi em Arequipa que Guzmán estudou no Colegio de la Salle, uma escola ginasial católica. Ao completar 19 anos ele começou a estudar no departamento de Estudos Sociais da Universidade Nacional de San Agustín, em Arequipa. Seus colegas de classe na faculdade o descrevem, mais tarde, como um jovem tímido, disciplinado, obsessivo e contemplativo. Cada vez mais atraído pela ideologia Marxista, seu pensamento político foi influenciado pelo livro “Sete ensaios sobre a interpretação da realidade peruana”, de José Carlos Mariátegui, o fundador do Partido Comunista Peruano.
Em Arequipa, Guzmán completou o ensino superior em Filosofia e Direito. Suas dissertações chamavam-se “A Teoria Kantiana de Espaço” e “O Estado Democrático Burguês”. Em 1962 Abimael Guzmán começou a trabalhar como professor de filosofia, empregado pelo reitor da Universidade San Cristóbal de Huamanga, em Ayacucho – cidade central nos Andes peruanos. O reitor era o Dr. Efraín Morote Best, um antropologista que, alguns crêem, tornou-se o verdadeiro líder intelectual do Sendeiro Luminoso. Encorajado por Morote, Abimael estudou Quechua, a língua falada por parte da população indígena do Peru, e tornou-se cada vez mais ativo nos círculos esquerdistas. Guzmán atraiu para perto de si diversos membros da academia que pensavam como ele, comprometidos com a missão de realizar a revolução no Peru. Ele foi preso duas vezes durante os anos 70 por causa de sua participação em revoltas violentas na cidade de Arequipa contra o governo dos presidentes Velasco Alvarado e Fernando Belaúnde Terry. Guzmán visitou a China comunista pela primeira vez em 1965, seguida de diversas outras visitas durante as quais fontes afirmam que aprendeu táticas políticas e sobre o uso de explosivos.

Guzmán deixou a Universidade San Cristóbal de Huamanga na metade dos anos 70 e começou um longo período em que esteve anônimo.
Nos anos 60, o Partido Comunista Peruano dividiu-se por conta de disputas ideológicas e pessoais e Guzmán, que havia escolhido para si uma linha de pensamento pro-Chinesa ao invés de pro-Soviética, emergiu como o líder da facção que ficou conhecida como “Sendeiro Luminoso” (Mariátegui escreveu: “o Marxismo-Leninismo é o sendeiro luminoso do futuro”). Guzmán adotou o nom de guerre Presidente Gonzalo e começou a defender uma revolução camponesa de acordo com o modelo Maoista.
Seus seguidores declararam a Guzmán, que desfrutava de anonimidade, como a “Quarta Espada do Comunismo (depois de Karl Marx, Lenin e Mao Tsé-tung). Em suas declarações políticas, Guzmán elogiava o desenvolvimento aplicado por Mao à tese Leninista com relação ao papel do Imperialismo enquanto base do sistema capitalista burguês. Ele acreditava que o Imperialismo “cria falhas e é mal sucedido, e vai acabar em ruínas nos próximos 50 ou 100 anos”.
Guzmán direcionava suas críticas não somente ao Imperialismo estadunidense, mas também ao que chamava de “imperialismo social” que segundo ele ocorria na União Soviética.

Em fevereiro de 1964, Abimael Guzmán casou-se com Augusta la Torre, que morreu em circunstâncias não esclarecidas, em 1989. Há rumores de que ela foi assassinada por Elena Iparraguirre, amante de Abimael, com a cumplicidade do mesmo. Ambos recusaram-se falar sobre a morte de Augusta desde a prisão de Abimael. No outono de 2006, encarcerado, Guzmán pediu Iparraguirre em casamento enquanto ela também cumpria prisão perpétua em um outro presídio. Depois de lutar pela permissão para casar-se por meios de uma greve de fome, Abimael e Elena casaram-se no fim de agosto, em 2010.

O começo

Em 1980, o Peru anunciou as primeiras eleições desde a ascensão do ditador Velasco no ano 1968. Em vez de participar da eleição, Guzmán e seus seguidores negaram o direito do governo convocá-la, e fugiram para as zonas ao norte do departamento de Ayacucho. Em 17 de maio, na noite anterior às eleições, o PCdP-SL queimou as urnas de votação em Chuschi, uma povação ayacuchana, o primeiro ato de guerra do grupo, porém fracassou porque o governo conseguiu substituir as urnas e capturar os guerrilheiros. Como resultado das eleições, Fernando Belaúnde Terry, presidente anterior do Peru (antes de Velasco), foi reeleito. A década de 1980 foi um bom período para o PCdP-SL, quando seus militantes cresceram em quantidade e obtiveram controle de muitas povoações do país. Seus assassinatos de oficiais impopulares trouxeram apoio ao grupo. Também perseguiram ladrões de gado, criminosos detestados entre os camponeses.
Os territórios controlados pelo Sendero Luminoso aumentaram e mais militantes se juntaram ao grupo, com foco na região montanhosa dos Andes. Muitas povoações apoiaram o PCdP-SL devido à ausência de autoridades governamentais locais.
Porém as perseguições de comerciantes e latifundiários mostraram o lado ameaçador do partido. As localidades com mais apoio ao PCdP-SL foram Ayacucho, Apurímac, e Huancavelica, três regiões montanhosas do Peru. Os julgamentos de pessoas em áreas de Sendero Luminoso por júris populares com frequência terminavam em execuções. Apesar da popularidade do Sendero Luminoso, não se pode afirmar que os camponeses apoiavam o do maoísmo.

Em vez de reagir à ameaça do PCdP-SL, o governo preferiu ignorar as ações dos guerrilheiros, e não declarou estado de emergência. O ministro de interior José María de la Jara recomendou táticas de polícia. O presidente do Peru, Fernando Belaúnde Terry, que foi reeleito, não teve a certeza de lutar efetivamente contra a insurgência, devido a seu próprio problema de conflito com os militares no passado (em 1968 Belaúnde, então presidente em seu primeiro mandato, foi derrubado do poder por Velasco). Em vez de tranqüilizar os distúrbios em Ayacucho, a inércia de Belaúnde mostrou apatia com relação ao conflito, e uma falta de interesse. Os camponeses já acreditavam que a liderança em Lima não estava de acordo com suas necessidades, porém agora eles viam que ele nem sequer quis desafiar os guerrilheiros.

 Em 29 de dezembro de 1981, o governo finalmente decidiu declarar as áreas de Ayacucho, Huancavelica, e Apurímac como zonas de emergência e outorgou-se o poder de deter pessoas suspeitas. Então os militares usaram a tortura para obter informações,  e no estupro para terrorizar os apoiantes do PCdP-SL.Em abril de 1982, um grupo de guerrilheiros do PCP-SL assaltou a prisão municipal em Ayacucho, assassinando alguns policiais e libertando seus correligionários. O governo replicou com a execução dos guerrilheiros que estavam no hospital da cidade.

Belaúnde responde

A reação do governo foi um sinal que o estado havia entendido o papel ameaçador do grupo, e declarou estado de emergência em Ayacucho, outorgando ao exército poderes especiais. Os incidentes de Ayacucho foram o começo de uma série sangrenta de represálias. A "Comissão da Verdade e Reconciliação" definiu que os crimes eram resultado da ignorância dos militares, em particular os marinheiros, que cumpriam períodos de serviço na região. Eles não possuíam a paciência de diferenciar entre os camponeses e os senderistas. O PCdP-SL explorou a situação e assassinou oficiais do Estado com mais frequência. Porém os senderistas tornaram-se mais brutais, culminando com a matança de Lucanamarca, na que morreram 69 pessoas pelas as mãos dos senderistas. Eles não só vitimaram policiais, como também pessoas que supostamente haviam ajudado o governo com informações ou apoio, chamados soplones na terminologia do movimento.

No início da luta, os efeitos não eram sentidos porque as regiões remotas nas quais o grupo era ativo não tinham grande impacto no país. Porém em 26 de janeiro, um incidente local em Uchurracay mudou a situação. Camponeses emboscaram um grupo de seis jornalistas, seu guia e mais habitante local e os mataram supondo que eram espiões a serviço do Sendero Luminoso. Os jornalistas foram enterrados em covas anônimas, até serem encontradas pela comissão de investigação coordenada pelo escritor Mario Vargas Llosa. Apoiantes do PCdP SL em Lima, a maioria deles não afiliado com o grupo senão com outros grupos esquerdistas. A política de Belaúnde recebeu muitas críticas como resultado do caso Uchurracay.

Atacando no resto do Peru

Depois de 1983, o Sendero Luminoso começou a atacar noutras regiões e também contra as infraestructuras das cidades de Huancayo, Huancavelica, Cerro de Pasco, Huánuco, Andahuaylas, Abancay, Ayacucho e ainda mais na capital Lima. O evento mais humilhante era o ataque senderista contra a rede elétrica de Lima, começando uma série de blecautes ali. Puseram carro-bombas em áreas estratégicas como os palácios de governo e de justiça do Peru. Em cidades do interior as senderistas tomaram o controle por períodos breves e conseguiram parar a atividade econômica. Neste tempo, PCdP-SL atacou os líderes de sindicatos, partidos esquerdistas, e oficiais do governo. Em 24 de abril de 1985, os senderistas tentaram o assassinato de Domingo García Radado, presidente do conselho nacional, durante as eleições presidenciais. Eles também executaram os sacerdotes e pastores protestantes que caíram nas suas zonas de influências. Em Huaycán, os senderistas mataram a assistente social María Elena Moyano, que havia se oposto ao senderismo.
Outro opositor do Sendero Luminoso foi o Movimiento Revolucionario Túpac Amaru (MRTA).




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