Tomás de Aquino (forma latinizada de Thomas Aquinas) da Lombardia, nasceu no final de 1224 ou no começo de 1225, em Roccasecca, perto de Nápoles, no Castelo Ancestral dos Condes de Aquino. Era ele o sétimo e mais novo filho de Landulfo, o corifeu de uma das mais ilustres famílias do sul da Itália. Sua mãe, condessa Teodora Carracciolo, era descendente dos Normandos. Era, ainda, sobrinho do poderoso Frederico Barbarossa.
Após iniciar seus estudos na Abadia de Monte Casino, sob orientação dos monges beneditinos, matriculou-se na Universidade de Nápoles, época em que teve oportunidade de entrar em contato com os dominicanos que ali haviam inaugurado um curso de Teologia. Em 1244, Tomás de Aquino, contra a vontade de sua família, vestiu o hábito dos dominicanos e rumou à Paris, com o desiderato de estudar Teologia. Seu pai havia falecido enquanto sua mãe, num esforço ciclópico para mudar a decisão de Tomás, ordenou que seus dois irmãos mais velhos, integrantes do Exército Imperial, prendessem-no para conservá-lo como prisioneiro. Ele apenas obteve sua libertação no ano seguinte, após o apelo dos dominicanos para o Sumo Pontífice e para o Imperador. A partir daí, sua família descobriu que absolutamente nada modificaria a sua determinação.
Chegando em Paris, em 1245, Tomás começou o curso de Teologia no convento dominicano. Seu Mestre foi Alberto Magno (1206-1280) , que estava começando a ser conhecido defensor das idéias de Aristóteles, cujas obras completas, recuperadas de fontes árabes, estavam sendo introduzidas para estudos na Universidade de Paris. Alberto Magno o iniciou na filosofia de Aristóteles, que mais tarde lhe forneceria as diretrizes para a doutrina de sua Summa Theologica. Com o mesmo catedrático, estudou em Colônia, de 1248 a 1252, ano em que se dirigiu novamente a Paris, tornando-se leitor das Escrituras e logo das Sentenças, de Pedro Lombardo na "Studium generale" dominial de Saint-Jacques. Foi aí que Tomás angariou grande popularidade como professor. Apesar de a Universidade exigir que o Mestre em Teologia tivesse, no mínimo, 34 anos de idade, Tomás, após uma dispensa papal obteve seu grau, em 1256, com pouco mais de 31 anos. Nesta época, conheceu São Boaventura, um de seus ferrenhos opositores. Quase imediatamente, após iniciar sua carreira universitária Tomás foi chamado a defender o direito das novas ordens religiosas de ensinar na universidade.
Após receber o título de "Magister Theologiae" regressou à Itália (1259), vindo a lecionar nas cidades de Agnani, Orvieto e Roma. Tomás permaneceu por nove anos na Itália, residindo primeiramente na Cúria Papal de Agnani e Orveto, depois num convento dominicano em Roma, e novamente com o Papa, em Viterbo. Foi nesta época (1260) que seu confrade, Guilherme de Moerbeke, a seu rogo, traduziu, a obra aristotélica "A Política". Recusou ofertas para tornar-se arcebispo de Nápoles ou abade de Monte Cassino. Preferiu dar continuidade ao magistério. Comentou as Escrituras, palestrou sobre Direito Canônico e, a pedido do Papa, compilou a Catena Aurea e ainda escreveu um trabalho com objetivo de reconciliar a Igreja Grega com Roma. Deu continuidade a exposição dos trabalhos de Aristóteles, traduzindo suas obras diretamente do grego.
No começo de 1269 Tomás de Aquino foi subitamente de volta a Paris, época em que o conflito sobre Aristóteles atingiu o clímax. Sua atividade, em grande parte, consistiu, por um lado, em refutar os averroístas, seguidores do médico e filósofo árabe (1126-1198), cuja doutrina era caracterizada pela tendência materialística e panteística. A originalidade do médico-filósofo, consistia em unir num conceptualismo uma física materialista e um racionalismo fundado sobre "o espírito da humanidade", presente em todo espírito individual, e a ele transcendente. Ibn-Roschd Averóis fora precursor dos filósofos heréticos, no islamismo e no cristianismo que negavam a imortalidade da alma individual. Suas idéias foram condenadas como anti-religiosas, razão precípua da liça com Tomás de Aquino. Todavia, exerceram poderosa influência até a época da Renascença (Pomponazzi).
Tomás acreditava que Averróis apresentava um aristotelismo aparentemente incompatível com o Cristianismo. Por outro lado, dando continuidade ao seu trabalho de paladino estrênuo de suas teses, combateu os augustinianos da Faculdade de Teologia que viam desfavoravelmente o ensino das teses de Aristóteles no contexto da Teologia. Contra os averroístas, Tomás escreveu dois tratados (De Aeternitate Mundi e De Unitate Intellectus) para provar que seus trabalhos não eram examinados filosoficamente. Ele teve oportunidade de responder aos augustinianos e averroístas enquanto explicava sua doutrina teológica através de comentários às Escrituras e, particularmente, a Summa Theologica , que ele havia iniciado na Itália, em 1267.
Em 1272, foi chamado novamente à Itália e incumbido de reorganizar todos os cursos teológicos de sua Ordem. Na universidade de Nápoles, proferiu palestras sobre os Salmos e São Paulo, comentou obras de Aristóteles e trabalhou na terceira parte de sua Summa Theologica .
A carreira de escritor de Santo Tomás de Aquino chegara ao fim em 6 de dezembro de 1273. Enquanto dizia uma missa, uma grande mudança se abateu sobre ele e, após isso, ele parou de escrever e ditar. Inquirido por um companheiro para completar a Summa ele replicou: "Não posso fazer mais. Estas coisas foram reveladas a mim que tudo que eu tenho escrito parece palha, e agora eu espero o fim da minha vida".
Chamado pelo Papa Gregório X para assistir ao Segundo Concílio de Lion, faleceu, quando ainda se encontrava a caminho, no Convento de Cistercienses de Fossanova, em no dia 7 de março de 1274, quando contava aproximadamente 49 anos.
Teve, portanto, uma vida dedicada integralmente ao estudo e à meditação filosófica. As lições recebidas de Alberto Magno permitiram que ele redesenhasse o saber teológico e moral medievos. Corolário lógico de tanta dedicação e estudo foi a extensa lista de obras por ele deixadas.
Certa ocasião, enquanto professava uma aula, um aprendiz, a pretexto de causar um momento de descontração em Tomás de Aquino, proporcionou uma das mais conhecidas passagens acerca de sua vida ao exclamar, com espanto: "Mestre, vejo um boi voando pela janela!!". Por tendência natural, Tomás olha pela janela, provocando gracejos entre os alunos. Com a fleuma e impassibilidade características de sua personalidade, o Mestre assim vaticinou: "Prefiro acreditar num boi voando do que num monástico mentindo."
Além da conhecida "Summa Theologica" (iniciada em 1265), deixou entre outras obras: "De Ente et Essencia" (1242-1243); "Quaestio Disputata de Veritate" (1256-1257); Comentários a várias obras de Aristóteles (1259-1272), de Boécio, de Pseudo-Dionísio; "Summa Contra Gentiles ou Summa de Veritate Fidei Catholicae Contra Gentiles" (1259-1260); "De Substantiis Separatis" (1260). Cite-se ainda, "Os Princípios", "Questões Sobre a Alma" , "Questões Diversas" e "Comentários Sobre as Sentenças" "De Potentia (1265-1267), "De Spiritualibus Creaturis (1268), "De Anima" (1269), De Malo (1269-1271), "De Virtutibus (1271-1272) e "De Unitate Intellectus" (1270).
Ficou conhecido como Doctor Angelicus (Doutor Angélico) e Princeps Scholasticorum (Príncipe dos Escolásticos). Foi canonizado em 18 de julho de 1323 e proclamado Doutor da Igreja em 1567. Com ele, a filosofia cristã escolástica chegou à mais completa síntese entre o significado puramente religioso das sagradas escrituras e as especulações teóricas da razão grega.