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O simbolismo do Fascio
O fascio é um simbolo de origem etrusca que é associado ao poder e à autoridade.
Na Roma Antiga, era usado em cerimónias oficiais - jurídicas, militares e outras - precedia a passagem de figuras da suprema magistratura, abrindo caminho em meio ao povo.
Constitui-se de um feixe de varas de bétula branca, simbolizando o poder de punir, amarradas por correias vermelhas (fasces), símbolo da soberania e união. O machado de bronze simboliza o poder de vida e morte.
Abaixo uma estátua de uma criança segurando o fascio.
Roma, basilica di san Marco, angelo della tomba del cardinale Aloisio Priuli |
O fascio se tornou mais tarde símbolo do movimento Fascista, doutrina totalitária desenvolvida por Mussolini na Itália, no qual, a própria nomenclatura se inspira.
Esse simbolismo tradicional, e até nostálgico e mitológico, vivia no imaginário e no sonho italiano, que no passado, fora o berço de um dos maiores e mais influentes impérios da Antiguidade.
Para Julius Evola, o que caracteriza a mitologização é a idealização. Para ele, que por vezes se mostra relativamente simpático ao movimento, o Fascismo é legítmo apenas na medida em que foi uma manifestação e re-assumpção da grande tradição política européia, fomentada no plano espiritual, político e social.
Essa fomentação, para Evola, representa tudo o que a Europa buscava antes da Revolução Francesa.
A ascenção do Terceiro Estado que, para ele, foi o início do fim que levou a tradição européia a sua atual prostração.
Para Evola, a origem do Fascismo está relacionada com a crise da idéia de Estado - da autoridade e do império, originária das ideologias do Risorgimento, movimento que buscou entre 1815 e 1870 a unificação da Itália, que antes era uma coleção de pequenos Estados submetidos a potências estrangeiras.
Do Risorgimento formou-se um Estado secular, de influência maçônica e de governo liberal(que Evola considera medíocre) com uma monarquia enfraquecida (parlamentar e constitucional).
O Estado então se tornou desprovido de mito no sentido positivo, aboliu a idéia superior orientadora e organizadora e tornou-se fraco mediante as eminentes sugestões revolucionárias do Quarto Estado, ou seja, a revolução socialista marxista.
Litor romano |
Com a ascenção do fascismo, a idéia de Estado, com uma base para um governo forte, afirmou o puro princípio da autoridade e da soberania política.
Se orientando no trinômio "autoridade, ordem e justiça", do qual para ele, inegavelmente, criou grandes Estados europeus.
Evola mostra-se um tanto fascinado com o retorno dessa idéia de poder e da autoridade.
O imperativo ideal fascista se dá em combater o sistema de incompetência peculiar à democracia e substituí-lo por um princípio de solidariedade, energia e unidade num mundo que sentia e sente os efeitos das influências deletérias da consciência de classe, partidismo, do regime de influentes e incompetentes trapaceiros políticos, para além dos antagonismo entre os capitalistas monopolistas, os mercados e as forças do trabalho no sistema de inspiração liberal.
Para Evola, outro aspecto positivo é o sistema corporativista. O corporativismo é um sistema político que atingiu seu completo desenvolvimento teórico e prático na Itália Fascista. De acordo com seus postulados o poder legislativo é atribuído a corporações representativas dos interesses econômicos, industriais ou profissionais, nomeadas por intermédio de associações de classe, que através dos quais os cidadãos, devidamente enquadrados, participam na vida política.
Esse espírito corporativista simboliza para ele uma re-assumpção do espírito que era a força motriz das antigas corporações e das empresas antes delas serem comprometidas por um lado pelos desvios e abusos de poder do capitalismo tardio, gerando uma consciência marxista que se espalhou pelas massas trabalhadoras.
O corporativismo fascista recolheu princípios de uma solidariedade anti-classista na ordem produtiva, superando ao mesmo tempo o liberalismo e o socialismo, numa concepção orgânica.
O primado do princípio político sobre a economia, e não o contrário.
Análise do sindicalismo e Autarcia
Apesar dos caracteres posititvos do corporativismo, o requerimento da praxis do regime foi apenas levada a meio.
No corporativismo fascista existiam ainda réstias da consciência de classe pois não houve a coragem de assumir uma posição claramente anti-sindicalista.
A dualidade empregador-empregado não foi superada onde deveria ter sido, nas próprias empresas, através de formas orgânicas originais.
O sindicalismo foi ineficiente, um parasita superstrutural estatal moldadado por um pesado centralismo burocrático.
O reconhecimento do sindicato representou um passo atrás e não um passo a frente, uma verdadeira demagogia legalizada.
O "passo-a-frente" para Evola foi representado na legislação laboral Nacional-Socialista que excluia o sindicalismo e ao mesmo tempo, conseguiu uma eficiente reconstrução da economia com a adequada satisfação da necessidade de justiça social.
Outro ponto criticado do fascismo é a Autarcia, o qual Evola defende.
Autarcia, é uma sociedade que se basta a si própria em termos económicos. Tem implícita a ideia de que um país deve produzir tudo aquilo de que necessita para consumir, não ficando dependente das importações.
O conceito de Autarcia tem origem na Antiguidade clássica, nas escolas estóicas, aonde era considerada como um imperativo da ética de independência e auto-soberania.
Manter o nível geral de vida relativamente baixo se necessário, para que se possa ser tão libre quanto possível das ataduras do capital e economias estrangeiras, é uma idéia sã e viril.
A Italia tem recursos naturais limitados.
Um sistema de autarcia e austeridade no contexto de uma economia de consumo equilibrada ao invés de uma de produção forçada e do supérfluo.
Contraposição da aparente prosperidade geral e uma vida quotidiana descontraída, com atroz saldo da dívida da balança estatal, uma extrema instabilidade, uma inflação progressiva e uma invasão de capital estrangeiro - invasão com o intúito encantador e hipócrita de "apoio ao desenvolvimento de áreas subdesenvolvidas".
A crítica do Totalitarismo.
Totalitarismo é um sistema político no qual o Estado, normalmente sob controle de uma única pessoa, político, facção ou classe, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada.
Segundo Evola, esse foi o primeiro dos diversos desvios que o fascismo teve quando era vigente.
O ideal de autoridade defendida por Evola era algo muito mais relacionada ao livre reconhecimento e lealdade a superioridade e muito menos impositivo.
Não deve ser equiparado a um pedagogo insuportável e invasivo.
Deve ser fruto de uma livre adesão e respeito mútuo e não interferência no que é estritamente pessoal e irrelevante para o propósito da ação comum.
A idéia formulal de "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado", para ele, torna o princípio de autoridade central indiscutível degenerada.
Esta idéia totalitária é reconhecível em um estado Soviético, dada suas premissas materialistas, mecanicistas e coletivistas, não em um sistema tradicional que se baseia em valores espirituais.
O Estado tradicional de Evola deve ser orgânico, não totalitário, e era nesse sentido que o regime fascista deveria ser guiado.
Um estado orgânico é um estado diferenciado e articulado, admite zonas de autonomia parcial, coordena e subordina a uma unidade superior forças cuja liberdade, no entanto, respeita.
Em busca de um nacionalismo purificado
Evola defende que a idéia tradicional da preeminência do Estado, qual ele viu germinar e morrer na ascenção do Fascismo, deve ser reassumida, reelaborada, repensada.
Uma precisa oposição ideal entre Estado e a "sociedade", reunindo nesta última todos os valores, interesses e disposições que dizem respeito ao lado físico e vegetativo de uma comunidade, não organizados em uma ideia superior.
Ideia que não se encontra nem democracia burguesa, de direito natural nem no socialismo pois ambos se limitam a entender o mundo unicamente em seus processos econômicos.
Para Evola, outro erro do fascismo, é incitar um nacionalismo apelando aos meros sentimentos de pátria e povo e associando a um "tradicionalismo" limitado a um conservadorismo do tipo burguês, púdico, catolizado e convencionalista.
Para ele, o sentimento de pátria e nação tem caráter pré-político, não inteiramente distinto do mero sentimento de família.
Pátria e nação, palavras usadas através de uma retórica vazia e desonesta, com fins táticos e eleitorais negando o possível conteúdo superior que pode ser reunido por um nacionalismo purificado.
Benito Mussolini - Cartaz Fascista |
Diarquia é uma forma de governo compartilhada por dois chefes de Estado.
Evola escreve que várias críticas foram dirigidas a partir de vários pontos de vista a respeito da diarquia, ou seja, a coexistência da Monarquia e de um tipo de ditadura no período Fascista.
Para muitos que estavam empolgados com o movimento mussoliano, a aceitação fascista da instituição monárquica se coloca como uma "falha revolucionária".
A diarquia tem caráter tradicional.
Desde a Roma Antiga admitia-se em casos de necessidade, como recurso não-revolucionário, uma dualidade de poder. Em outras constituições tradicionais sempre vemos relações equivalentes à do Rei e do Duce, Rei e Imperador, a coexistência de uma autoridade máxima de um território e um governador (no sentido militar).
O primeiro encarnando o puro, intangível e sagrado princípio da soberania, e o segundo aparecendo como aquele que, em períodos tempestuosos ou em vista de exigências particulares, executava deveres excepcionais numa posição arriscada que, devido à própria natureza da sua função, não podia aproveitar ao rex.
O plano do rei é um plano abstrato, sagrado e dirigido aos princípios puros.
O Fascismo se enveredou pelo caráter populista, digno de um Bonaparte, com a inclinação democrática/demagócica de ir "ao encontro do povo", aproveitando-se de sua adulação, e excitando as forças emocionais e irracionais das massas.
A obediência dos suditos, num plano ideal, deve se basear em um "pathos de distância" (Nietzche), porque sentem que estão na presença de alguém que é quase de outra natureza.
Tanto o Ducismo e o Hitlerismo discursam em uma orientação moderna e anti-tradicional, pois o respeito e autoridade se dá pela idéia (falsa) de igualdade do lider, que na essência se pauta na idéia de "popular", sendo "um de nós" e representa (falsamente) a "vontade do povo".
A diarquia deve ser considerada apenas como uma doutrina, abstraindo qualquer consideração sobre a situação presente, homens e coisas. Não existem hoje reis que se atrevam a intitular-se como tal que não pela vontade do povo, e, se existissem, ninguém lhes obedeceria.
A questão do "partido único"
O verdadeiro Estado não reconhece a partidocracia de um regime democrático e parlamentar.
Partido significa parte, e implica portanto uma multiplicidade.
Partido único seria a parte que pretende tornar-se o todo, ou, uma facção que elimina as outras sem se elevar a um plano superior, precisamente porque se continua a considerar como partido.
Só pelo conceito puro de "partido" denota-se um empecilho a um sistema realmente orgânico e monolítico.
Então, mais do que um partido, precisaremos de falar de uma espécie de "Ordem", remetendo-se a função que, noutros tempos, a nobreza teve enquanto classe política - até o período dos europeus centrais.
Nem Rússia, nem América
O que deve ser reassumido do Fascismo, como clara palvra de ordem, é a oposição tanto à Russia como à America.
Cartaz Fascista contra os Aliados "O trabalho dos Libertadores" |
Cabe aos tradicionalistas, por falta de uma representatividade de uma "terceira via", infelizmente, a defesa interior, espiritual, subjetiva.
A defesa interior do capitalismo (americanismo) e do comunismo, já teria grande significado.