domingo, 1 de abril de 2012

Arte Egípcia - Frontalidade


Os egípcios acreditavam que se uma fiel imagem do rei fosse preservada, não havia a menor dúvida de que ele continuaria vivendo para sempre. Por isso, faziam com que os artistas esculpissem a cabeça do rei em imperecível granito e a colocavam na tumba, onde ninguém a via, a fim de exercer sua magia e ajudar  a alma a manter-se viva na imagem e através dela.

Escultor – “aquele que mantém vivo”.

Os retratos emanam solenidade e simplicidade; o escultor interessava-se  rigorosamente pelos aspectos essenciais, excluindo os detalhes secundários.

As obras não tinham função de provocar deleites e sim de manter vivo. Quando morria um homem poderoso, era costume seus servos o acompanharem na sepultura. Sacrificavam-nos para que o senhor chegasse no além com um séqüito a  sua altura.

Mais tarde, devido aos grandes gastos que essa ação implicava, eram oferecidas imagens aos poderosos da Terra como substituto. As pinturas e os modelos encontrados em túmulos egípcios estavam associados à idéia de fornecer servos para  a alma no outro mundo, uma crença que é encontrada em muitas culturas.

Os pintores egípcios tinham um modo de representar a vida bem diferente do nosso.

O que mais importava não era a beleza, mas a plenitude. A tarefa do artista consistia em preservar tudo com a maior clareza e permanência possível. Desenhavam de memória de acordo com regras estritas, as quais asseguravam que tudo o que tivesse de entrar no quadro se destacaria com perfeita clareza.


Frontalidade

Tudo tinha que ser representado a partir do seu ângulo mais característico. A cabeça era mais facilmente vista de perfil. O olho, porém é como se víssemos de frente. A metade superior do corpo, os ombros e o tronco podem ser vistos melhor de frente, pois assim observamos como os braços se ligam ao corpo. Braços e pernas em movimento, porém, vêem-se com muito mais clareza de lado. Os pés são vistos do lado de dentro, e o homem do relevo parece ter dois pés esquerdos.

Não se deve supor que os artistas egípcios pensavam que os seres humanos tinham tal aparência. Seguiam meramente uma regra que lhes permitia incluir tudo o que consideravam importante na forma humana.

A arte egípcia não se baseava no que o artista  podia ver num dado momento, e sim no que ele sabia fazer parte de uma pessoa ou de uma cena. Era a partir dessas formas por ele aprendidas e dele conhecidas, que construía as suas representações. Não era apenas o seu conhecimento de formas e contornos que o artista consubstancia na pintura, mas também o conhecimento que ele possui do significado dessas formas.

Os egípcios desenhavam o “chefão” maior do que os seus criados e até do que sua esposa.

Os artistas egípcios iniciavam os seus trabalhos desenhando uma rede de linhas retas na parede, e distribuíam as suas figuras com grande cuidado ao longo dessas linhas. Apesar desse sentido geométrico de ordem, os artistas observavam com precisão os detalhes da natureza. Cada ave ou peixe é desenhado com tamanho realismo que os zoólogos ainda hoje podem reconhecer facilmente a espécie a que cada um pertence.

Uma lei à qual todas as criações artísticas de um povo parecem obedecer é chamada de “estilo”. O estilo egípcio incorporou uma série de leis bastante rigorosas, e todo artista tinha que aprendê-las desde muito jovem.

Todo artista devia aprender também a arte da bela escrita. Tinha que recortar na pedra, de maneira clara e precisa, as imagens e os símbolos dos hieróglifos. As estátuas sentadas deviam ter as mãos sobre os joelhos, os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres, a aparência de cada deus egípcio era rigorosamente estabelecida:

Hórus, o deus-céu – apresentado como um falcão ou uma cabeça de chacal.

Anúbis – o deus dos ritos funeral, como um chacal ou com uma cabeça de chacal.

Assim que dominasse todas essas regras, dava-se por encerrada a sua aprendizagem. Ninguém queria coisas diferentes, ninguém lhe pedia que fosse “original”.

No transcurso de três mil anos ou mais, a arte egípcia mudou muito pouco.

Amenófis IV, rei da 18º dinastia rompeu com muitos costumes da antiga tradição. Não rendia homenagem aos incontáveis deuses, para ele só havia um deus supremo Aton, de quem era devoto e a quem fez representar coma forma do disco do sol enviando raios. Intitulou-se Akhenaton, de acordo com o nome de seu deus.

As pinturas que ele encomendou chocaram os egípcios, em nenhuma delas se encontrava a solene e rígida dignidade dos faraós anteriores. Preferiu fazer-se representar com a sua esposa NEFERTITI, acariciando seus filhos sob as bênçãos do Sol.

O sucessor de  Akhenaton foi Tutankhamon e algumas de suas obras ainda têm o estilo moderno da religião de Aton, como na obra em que está com sua esposa. Ele sentado numa atitude relaxada, sua esposa não é menor que ele e gentilmente coloca a mão no ombro do rei, enquanto o Deus Sol outra vez estende suas mãos numa bênção a ambos.

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