segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pasenow ou O Romantismo - Hermann Broch


Pasenow ou o romantismo, o romance que abre a trilogia  "Os sonâmbulos", passa-se na Prussia, entre Berlim e Stolpim. O tenente Joachin von Pasenow, personagem central, é um indivíduo perdido em meio à decadência dos valores e da personalidade e manifesta as reações típicas do sujeito apalermado ante a perda de sentido e de orientação do mundo moderno. Seguindo o romantismo assinalado no subtítulo do romance, Pasenow, um quixotesco personagem, nega a realidade fática e, nostálgico, tenta viver um mundo que já não existe mais. Agarrando-se onde pode, vê no uniforme militar uma garantia de ordem ante a decadência da cultura civil ameaçada. A farda parece ser seu único arrimo, e ele vive sempre diante da ameaça de perdê-la. O uniforme é a representação material mais fiel da forma, e da forma absoluta, um forte símbolo do Estado prussiano arcaico. Mesmo assim, Pasenow quase sempre se comporta mais como um civil condenado ao uniforme ao uniforme do que como um militar de cepa, coisa que se dizia também de Guilherme II, seu imperador.
Pasenow sente a ameaça constante da vida civil, na qual o amigo Eduard Bertrand acabou caindo. É Bertrand que tenta dar alguma orientação, ainda que dúbia, ao mundo de Pasenow. Há uma interessante relação dialética de civil e militar representada por Bertrand e Pasenow respectivamente.
Outra relação dialética interessante se manifesta nas figuras de Ruzena, a "dama de folguedos", uma boêmia que Pasenow conhecera num cassino, que vai representar para ele a essência desviante do desejo sexual e a descoberta do lado irracional da alma humana, e Elizabeth, a filha do barão de Baddensen, que é mostrada como o símbolo da pureza, a chama constante, a luz sobre o lodaçal em que Pasenow buscará nela o "caminho para a liberdade". Outra manifestação dialética que opera na alma de Pasenow é a liberdade de Berlin (onde acontece seus encontros carnais com a amante, Ruzena) e os deveres da fazenda paterna, em Stolpin.
Essa relação dialética, conflituosa e paradoxal do espírito em Pasenow, que vive o drama de ser um homem tradicional jogado no mundo moderno, de manter valores sólidos em um mundo que perdeu seu senso de orientação é o que marca o romance, elogiado por escritores consagrados como Thomas Mann. Seu despojamento, absolutamente original para a época, além de ser um marco na literatura clássica, capta a complexidade da existência no mundo moderno, em uma estrutura que realiza a união da narrativa, do sonho e da filosofia em um único tom.

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