Reynard é um ciclo literário bastante conhecida na França, na Inglaterra e na Alemanha sobre um ser antropomórfico e trapaceiro chamado Reynard, que se assume na forma de uma raposa vermelha.
A figura de Reynard surge originalmente no folclore alsácia-loreano desde o Sacro Império Romano-Germânico, de onde se espalhou até a França, nos Países Baixos, Alemanha e, posteriormente, Inglaterra.
O personagem é tratado extensivamente em francês antigo, no espectro de variantes da linguagem romântica falada em territórios que grosso modo, correspondem a metade setentrional da França moderna e partes da Bélgica e Suíça durante o período de 1000 a 1300.
Temos por exemplo o Le Roman de Renart de Pierre de Saint-Cloud, por volta de 1170.
Na história Reynard é convidado a corte do rei Noble, ou Leo, o Leão, para respnder as acusações feitas contra ele por Isengrim, o Lobo. Outros animais antropomórficos na história, incluindo Bruin o Urso, Baldwin o Asno, Tibert o Gato.
Alguns dos contos apresentam o funeral de Reynard, onde seus inimigos se reúnem para entregar elegias sentimentais cheias de piedade hipócrita, que caracterizará uma vingança póstuma de Reynard.
As histórias geralmente envolviam sátiras contra a aristocracia e o clero corrupto, fazendo de Reynard um herói-camponês popular.
Reynard aparece em primeiro lugar no poema Ysengrimus, um poema em latim atribuído ao poeta Nivardus. Neste poema o personagem principal é Ysengrimus (ou Isengrim), o lobo, e Reynard aparece como antagonista.
O Ysengrimus baseia-se nas mais antigas tradições das "fábulas bestiais" em latim (fábulas em que animais falam), como o Captivi Ecbasis, escrito no século XI; onde já existia uma oposição alegórica já tradicional entre o lobo e a raposa.
Ysengrimus é geralmente considerado uma alegoria para os monges corruptos e gananciosos da Igreja Católica Romana e o foco principal da crítica é a cobrança de indulgências. Um lobo entre as ovelhas, que se vê triunfado por Reinardus, a raposa, que representa a astúcia dos pobres e humildes.
Apesar do clero corrupto estar na mira das críticas dos contos de Reynard a Igreja Católica não via as histórias com maus olhos e até mesmo se apropriou da famosa raposa para fazer uma propaganda contra o Lollardismo, um movimento político surgido na Inglaterra que pregava uma série de reformas na Igreja Católica, entre elas, a mais polêmica, deixar que um leigo devoto tivesse o poder de executar os mesmos ritos de um padre, acreditando que o poder religioso e a autoridade resultam da devoção e não da hierarquia da Igreja.

Em 1937 há outra versão anti-semita do conto chamada Van den vos Reynaerde, escrita pelo belga Robert van Genechten, publicada pelo partido Nacional-Socialista holandês.
A história apresenta rinocerontes, insinuando o nariz judeu típico. Um deles é chamado Jodocus, que refere-se à palavra holandesa para o judeu. A história também apresenta um burro, Boudewijn, ocupando o trono. "Boudewijn" passou a ser o nome holandês do príncipe herdeiro belga contemporâneo. Esta é uma referência ao líder nazista belga Léon Degrelle, líder do movimento "rexista" belga, um grupo de extrema-direita, católico, nacionalista, autoritário e corporativista.
Van den vos Reynaerde também foi produzido como um filme de desenhos animados pela Nederlandfilm em 1943. O filme foi financiado principalmente com dinheiro alemão. Enquanto ricamente orçamentado, nunca foi apresentado publicamente, possivelmente porque a maioria dos judeus holandeses já haviam sido transportados para os campos de concentração e o filme veio tarde demais para ser útil como uma peça de propaganda, possivelmente também porque o Departamento Popular de Informação holandês opôs-se ao fato de que a raposa, um animal visto tradicionalmente como "vilão", deva ser utilizado como herói.
Abaixo uma série de ilustrações feita por Wilhelm von Kaulbach